Um documento divulgado nesta segunda-feira pelo jornal inglês The Guardian e pela rede de televisão do Qatar Al-Jazeera mostra que o Mossad, o serviço secreto de Israel, tinha uma visão bem menos alarmista sobre as intenções nucleares iranianas do que seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
Em discurso histórico proferido nas Nações Unidas em setembro de 2012, Netanyahu exibiu um desenho de uma bomba e afirmou que o Irã se preparava para construir uma bomba nuclear em menos de um ano.
No entanto, algumas semanas depois do discurso, o Mossad produziu um documento afirmando que "O Irã não projeta um nível de atividade necessário para a produção de armas".
De acordo com os veículos de imprensa que tiveram acesso em primeira mão aos documentos, o relatório faz parte de uma série de arquivos de diferentes serviços de espionagem que foram vazados. Entre os achados deste vazamento, estão uma tentativa da CIA de entrar em contato com o grupo islâmico palestino Hamas, a espionagem feita pela inteligência da Coreia do Sul sobre o líder do Greenpeace e o serviço secreto da África do Sul espionando a Rússia. O Guardian afirma ter "autenticado independentemente" os documentos.
Um oficial israelense que não quis se identificar disse que "não há discrepância" entre o discurso de Netanyahu e os vazamentos.
"Até meados do próximo ano, eles terão terminado a fase de enriquecimento médio do urânio necessária para atingirem o estágio final. De lá, são necessários apenas alguns meses, ou mesmo semanas, para eles conseguirem urânio enriquecido o suficiente para a primeira bomba", disse o primeiro-ministro israelense na ONU, em 2012.
O Mossad, entretanto, parece bem menos alarmado nos documentos vazados.
"Mesmo se o Irã tiver acumulado urânio enriquecido a 5% em quantidade suficiente para a fabricação de diversas bombas, e se tiver enriquecido parte desta quantidade a 20%, o país não parece pronto para enriquecê-lo a níveis mais altos", diz o documento.
O país muçulmano está negociando um acordo final sobre seu programam nuclear com cinco potências mundiais, que deverá ser um dos assuntos que Netanyahu irá abordar em seu discurso ao Congresso dos Estados Unidos nos próximos dias. Ele foi convidado pelo presidente da Câmara dos Deputados, John Boehner, à revelia da Casa Branca, e aceitou. Israel fará eleições gerais em março, menos de duas semanas depois do discurso de Netanyahu, e o convite gerou críticas por parte do presidente Barack Obama, que decidiu não se encontrar com Netanyahu durante esta visita.
fonte: Estadão Conteúdo