Levantados pelo professor Kevin Gallagher, da Universidade de Boston, os dados mostram o crescente envolvimento financeiro da China na América Latina, movido pela acumulação de reservas, a necessidade de internacionalização e o apetite por matérias-primas da segunda maior economia do mundo. Nos dez anos encerrados em 2014, instituições financeiras chinesas liberaram US$ 119 bilhões em financiamento para a região, cifra que é o dobro do PIB do Uruguai.
Autor do livro "The New Banks in Town: Chinese Finance in Latin America", Gallagher acompanha há anos a evolução dos empréstimos do país asiático para a região. Os dados estão reunidos em uma base de dados virtual construída com o apoio do Inter-American Dialogue e da Global Governance Initiative da Universidade de Boston.
Segundo Gallagher, os financiamentos são um dos caminhos para os chineses diversificarem a aplicação de suas reservas internacionais para além da compra de títulos do tesouro americano. O país asiático está sentado em uma montanha de US$ 4 trilhões, equivalente a quase o dobro do PIB brasileiro. As cifras liberadas no ano passado são as maiores da última década com exceção de 2010, quando foram realizados contratos no valor de US$ 37 bilhões.
Segundo o banco de dados, a maior parte do financiamento chinês é destinada a países que têm dificuldade em obter financiamento no mercado de capitais, de organismos multilaterais ou de bancos americanos e europeus, categoria na qual estão Venezuela, Argentina e Equador.
O país governado por Nicolás Maduro lidera o ranking, com empréstimos de US$ 56,3 bilhões desde 2007. A maior parte dos recursos — US$ 28,4 bilhões — foram destinados a projetos de infraestrutura. O restante foi para energia, mineração e facilitação do comércio.
Apesar de ter acesso a mercados e a financiamento, o Brasil foi o segundo beneficiário dos empréstimos chineses dos últimos dez anos, concedidos por instituições estatais como o China Development Bank, o Bank of China, e o Exim Bank. Desde 2005, o país recebeu US$ 22 bilhões. Desse valor, US$ 10 bilhões foram aprovados em 2009 para financiar a exploração de reservas do pré-sal. No ano passado, os chineses liberaram US$ 8,5 bilhões em dois empréstimos de US$ 7,5 bilhões à mineradora Vale e um de US$ 1,1 bilhão ao grupo Schahin.
A Argentina aparece em terceiro lugar, com US$ 19 bilhões. O maior projeto, de US$ 4,7 bilhões, foi aprovado no ano passado e envolve a construção de uma usina hidrelétrica. As estatísticas não incluem os 20 acordos assinados recentemente entre a China e a Argentina, pelos quais Pequim financiará projetos no valor de US$ 7,5 bilhões.