Segundo os autores, o fóssil reúne características dos Australopithecus, bem mais primitivos, e de outras espécies mais recentes do gênero Homo, indicando uma transição entre elas.
Em um estudo publicado simultaneamente na revista Nature, outra equipe de cientistas fez a reconstituição computadorizada do crânio de um Homo habilis — a primeira espécie do gênero — e descobriu surpreendente diversidade entre esses hominídeos, indicando também que eles tinham características mais primitivas do que se pensava, combinadas com traços modernos.
O fóssil que deverá transformar a história da evolução humana é um pedaço de uma mandíbula inferior, com cinco dentes, achado há dois anos no sítio arqueológico de Ledi-Geraru, na região etíope de Afar.
Segundo os cientistas, liderados pela geóloga Erin DiMaggio, da Universidade Estadual da Pensilvânia (Estados Unidos), o hominídeo pertencia ao gênero Homo e viveu há 2,8 milhões de anos, quando ainda havia na região arbustos, rios e zonas úmidas arborizadas. Os pesquisadores acreditam que mudanças climáticas podem ter acelerado o aparecimento do gênero Homo.
Segundo os autores, a descoberta ajuda a preencher lacunas sobre um período importante para a evolução humana — entre dois e três milhões de anos atrás, quando os hominídeos sofreram uma transformação crucial, deixando para trás aparência e comportamento mais semelhantes aos dos macacos. "Essa descoberta é o primeiro indício que temos dessa transição para o comportamento dos humanos modernos. Naquele momento, deixamos de resolver os problemas com nossos corpos e passamos a fazê-lo com nossos cérebros", disse um dos autores, Brian Villmoare, da Universidade de Nevada.
O novo fóssil tem uma série de características primitivas em comum com um ancestral de outro gênero, o Australopithecus afarensis, cujo espécime mais conhecido é Lucy, fóssil de 3,5 milhões de anos encontrado em 1974 em Hadar, a 65 km de Ledi-Geraru. Mas o novo fóssil também tem traços de hominídeos modernos do gênero Homo.
No estudo da Nature, a equipe liderada por Fred Spoor, do Instituto Max Planck, produziu uma reconstrução virtual do mais representativo fóssil do Homo habilis, datado de 1,8 milhão de anos. Com isso, foi possível comparar o fóssil ao mais antigo espécime de Homo habilis já encontrado, de 2,3 milhões de anos. A análise indica que a mandíbula é tão primitiva quanto a do Australopithecus, mas outras características são semelhantes às dos hominídeos mais recentes.
Fonte: Estadão Conteúdo