E estas consequências serão muito favoráveis para a República Popular da China: Pequim obterá por vários anos uma janela de oportunidade para reforçar a sua influência na região da Ásia-Pacífico.
No presente momento, a situação na Ucrânia se está formando de modo que os compromissos do Acordo de Minsk II possam ser cumpridos, pelo menos parcialmente. As suas cláusulas relativas à reforma constitucional na Ucrânia e as – indissoluvelmente ligadas a estas – referentes à recuperação do controle da fronteira por parte de Kiev, na prática, são de difícil cumprimento, ao passo que a implementação do cessar-fogo e a retirada das armas pesadas a partir da linha de frente se apresentam bem viáveis.
Os planos já anunciados de reforçar a presença militar da OTAN na Europa Oriental e prestar a assistência militar à Ucrânia serão, a julgar por todos os indícios, implementados e mesmo expandidos. Na situação de crise na zona do euro, o fardo principal da execução desses planos vai recair, como de costume, sobre os ombros dos Estados Unidos.
Trata-se, nem mais nem menos, de implantar uma rede de centros de comando no Leste Europeu, aumentar para mais do dobro o número de efetivos das forças de intervenção rápida da OTAN e assegurar a presença constante na Europa Oriental das forças norte-americanas sob o pretexto de exercícios.
Em geral, os EUA e a UE embarcam, no caso da Ucrânia, em um projeto ambicioso de refazer um enorme país, um projeto que se assemelha ao fracassado no Iraque. A diferença entre a Ucrânia e o Iraque consiste em que o Iraque foi capaz de financiar as suas necessidades mediante exportações de petróleo, enquanto a Ucrânia já não tem nenhuns recursos úteis.
Mesmo no caso de afrouxamento e pacificação do conflito, a Ucrânia não deixará de ser um dos potenciais pontos quentes de maior relevância global, o que tem grande importância para os EUA, cujo prestígio e a influência internacionais são baseados no papel especial que este país desempenha na segurança europeia.
Nesta área geográfica, os EUA não se podem dar ao luxo de mostrar fraqueza frente à Rússia. Contudo, as reservas para o aumento das despesas orçamentais de Washington continuam sendo limitadas. A prolongação da crise na Europa Oriental, conjugada com a nova escalada de tensões no Oriente Médio, onde a Casa Branca já está atolada na guerra com o Estado Islâmico, torna questionável a implementação da estratégia de "retorno à Ásia" do presidente Obama.
Ao contrário da primeira "trégua", é pouco provável que a China vá aproveitar a segunda "trégua" simplesmente para potenciar suas capacidades internas. Durante a última década, a China tem dado um enorme salto não só na economia, mas também na esfera militar e técnico-militar.
A China está no umbral de um período de oportunidades sumamente favoráveis para alterar e aumentar o seu papel e a sua influência nos assuntos regionais e mundiais. Não obstante, este período a duras penas se prolongará para mais de um decênio, e Pequim terá que usá-lo para que surta o máximo efeito.