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Historiador: memória é uma arma que deve impedir volta do nazismo

© Sputnik / Sergei Loskutov / Acessar o banco de imagensSoldados soviéticos jogam estandartes alemães durante Parada da Vitória em Moscou em 1945
Soldados soviéticos jogam estandartes alemães durante Parada da Vitória em Moscou em 1945 - Sputnik Brasil
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O autor da primeira monografia brasileira sobre a participação do Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial está preparando uma reedição e um novo livro.

O professor de História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), João Claudio Platenik Pitillo, comentou, em entrevista à Sputnik, que acaba de receber a nomeação para a medalha comemorativa dos 70 anos da Vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial. O motivo é o êxito do livro "Aço Vermelho: Os Segredos da Vitória Soviética na Segunda Guerra Mundial", publicada em julho de 2014 pela editora Multifoco.

Para ele, a Rússia contemporânea é "o Estado continuador da União Soviética", pelo qual tem o compromisso de proteger a sua memória histórica.

Além de historiador, o professor é diretor de projetos na FAFERJ (Federação de Associações de Favelas no Estado do Rio de Janeiro).

Neste ano, a edição do primeiro livro quase se esgotou, e o historiador está preparando a segunda edição, junto com o seu colega Ricardo Quiroga de Vinhas. Segundo o professor Platenik Pitillo, o cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, Andrei Budanov, pode escrever a introdução do livro.

Além disso, o historiador prepara um novo livro que revelará ao público leitor brasileiro uma página importante da história do maior conflito do século XX: a batalha de Moscou de 1941, quando a Rússia (então a URSS) estava em perigo de perder a sua capital.

O livro irá se chamar "Moscou 1941: O Crepúsculo de Hitler".

"Lá, com base em documentação soviética e russa, eu vou provar que a derrota na batalha de Moscou foi uma derrota tão acachapante, tão humilhante para o exército nazista que ele demorou muito para se recompor. E talvez nem tenha conseguido mais ser o que foi antes da batalha de Moscou", comenta Platenik Pitillo o seu novo projeto editorial.

Participação brasileira

O Brasil também não estava fora da Segunda Guerra Mundial, insiste o historiador. O conflito, esquecido por muitos, foi importante para o país, que sofreu baixas significativas, diz o cientista:

"Apesar de nós termos contribuído, perto das grandes potências, um pouco, o nosso esforço foi grandioso por fazer aquilo que o Brasil podia na época. A participação brasileira é sempre ressaltada por mim como um esforço do povo brasileiro que também sofreu nas mãos do Eixo. O Brasil também pagou o seu preço caro na Segunda Guerra Mundial".

"Não devemos permitir nova guerra mundial"

O professor Platenik Pitillo ainda comentou a situação internacional atual, indicando para certa tendência perigosa no mundo contemporâneo:

"É um momento complicado da história mundial, a gente vê esforços neonazistas se rearticulando no mundo, com nacionalismos perigosos e extremismos. A gente já viu aquele grupo EI [Estado Islâmico] que está atuando no Oriente Médio, já viu aquelas forças fascistas que estão se articulando na Ucrânia. Isto é muito perigoso".

Segundo o especialista, é esse o objetivo de todo historiador: explicar o passado para traçar perspectivas para o presente:

"Nós temos, como historiadores, o dever de usar a memória como uma arma para não permitir que aconteça de novo. Não podemos permitir que o mundo se suma em uma Terceira Guerra Mundial".

***

Leia abaixo o resto da entrevista:

- O senhor publicou o seu livro "Aço Vermelho" no ano passado e agora está preparando uma reedição. Em que esta nova edição será diferente da primeira?

— Sim, o primeiro livro foi de grande circulação, inclusive entre os estudiosos da Segunda Guerra Mundial. A crítica me recebeu bem, a comunidade acadêmica me recebeu bem, os professores conceituados no assunto também olharam o meu livro com bastante atenção, e gerou uma demanda para que eu fizesse uma versão mais ampliada, e essa segunda edição será em comemoração aos 70 anos da Vitória.

O que diferencia esta segunda versão da primeira é que ela tem alguns dados a mais sobre algumas batalhas. E eu convidei para escrever o posfácio outro grande estudioso sobre a matéria, Ricardo Quiroga de Vinhas. Ele fala e lê russo muito bem. Ele nasceu na Tchecoslováquia, porém é brasileiro. Ele domina bem o idioma, ele tem fontes muito boas sobre a guerra em tcheco e em russo. Ele está me ajudando também no meu segundo livro para que a gente possa ter informações inéditas sobre a batalha de Moscou.

Ainda sobre o primeiro livro: eu também vou convidar o senhor cônsul-geral da Rússia no Rio para escrever uma pequena apresentação do meu livro.

Acredito que isso vai agitar o mercado na véspera dos 70 anos da Vitória, que é um aniversário redondo, o livro vai ser novamente bem recebido, não só por estudiosos, por acadêmicos, mas sobretudo também por aqueles que se interessam pela Segunda Guerra Mundial.

- O senhor disse que só utilizava fontes soviéticas, elas são de fácil ou difícil acesso no Brasil?

— As fontes em que eu me baseei no livro são praticamente impossíveis de se achar no Brasil. Talvez você conte os dedos de uma das mãos para saber quantas pessoas têm esses livros no Brasil.

Os livros vieram poucos ao Brasil e os que vieram, o tempo já levou, dando-lhes mais valor ainda. Eu perguntava àqueles velhos militantes comunistas brasileiros se tinham esta literatura.

Achei muito material soviético referente à guerra também em Cuba. Há livros da editora soviética Progresso e da portuguesa Avante, em espanhol e português. Por isso, eu não tenho nenhum problema de tradução e não dependo do viés da tradução. O meu material soviético foi traduzido pela própria União Soviética na hora da sua confecção.

Esse material garantiu o sucesso do meu livro.

São informações que não são novas no Leste europeu, que não são novas na Comunidade dos Estados Independentes, que não são novas para os estudiosos sérios, que dominam o idioma russo. Agora, para quem está no Brasil no século XXI, só tem o meu livro. O meu livro é o primeiro de uma série de muitos que vão ajudar na pesquisa da União Soviética.

- Existe agora uma escola de estudos da União Soviética no Brasil?

— Eu e mais dois colegas que são também especialistas sobre o Exército Vermelho soviético. São dois grandes pesquisadores que têm também muito material, como eu. São Ricardo Quiroga Vinhas, de quem eu já falei, e Luís Eduardo Mergulhão.

A ideia é criar um centro de pensamento e discussão da Segunda Guerra Mundial. Começar a juntar o material que a gente tem, criar uma biblioteca, digitalizar esta biblioteca, disponibilizá-la a todos os que querem ler livros soviéticos e começar a traduzir materiais e coloca-los na Internet o mais rápido possível para que isso funcione como um centro de memória e apoio à pesquisa, para que outros que quiserem seguir o nosso caminho, tenham esse suporte.

Fui convidado também a participar do Congresso de Jovens Líderes em Yalta por uma organização russa, chamada Herdeiros da Vitória. Estou em contato com eles, tentando conseguir mais materiais sobre a participação soviética na Guerra Fria para disponibilizar este material aqui no Brasil para que toda a gente possa estudar.

Nós queremos também criar um centro aqui no Brasil para ter se comunicar com a Rússia, com a CEI, para que a gente possa trocar informações, distribuir e que em breve as universidades brasileiras incluam no seu currículo os estudos soviéticos e russos. É justamente o nosso papel, o papel da História: democratizar a informação.

Eu tenho certeza de que quanto mais gente souber dos esforços da União Soviética no combate ao fascismo, mais essas pessoas se tornarão militantes da causa contra o fascismo, porque o fascismo surge da ignorância.

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