Em conversa com o jornalista Arnaldo Risemberg, Roberto Fendt, que é diretor executivo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), considerou equivocadas as ideias sobre o real papel do Banco do BRICS e do Arranjo Contingente de Reservas. Para ele, na condição de membros do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul devem continuar aproveitando o que essas instituições têm a oferecer.
"Não é nenhum demérito, para qualquer país, solicitar recursos de algo que existe justamente para isso", afirmou o especialista, acrescentando que, por outro lado, os recursos provenientes das novas instituições criadas pelos BRICS serão muito úteis, principalmente no que se refere ao financiamento de infraestruturas tanto nos países do bloco como em outras partes do mundo.
No entanto, para que o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas possam dar início às suas operações, os parlamentos dos países envolvidos precisam ratificar o acordo de criação dessas instituições, o que ainda não foi feito. No caso do Brasil, segundo Fendt, as atuais turbulências políticas podem retardar um pouco esse processo, que, na Rússia, por exemplo, já se encontra em estado avançado.
Na última quinta-feira, durante uma reunião em Washington, paralela ao encontro anual do FMI e do Banco Mundial, autoridades financeiras dos cinco países do BRICS decidiram criar uma entidade jurídica provisória para acelerar a fundação do NBD, que, segundo o ministro russo das Finanças, Anton Siluanov, poderia começar a funcionar antes da próxima cúpula do bloco, em Ufá, no mês de julho. Mas o acordo firmado ontem tem como objetivo apenas deixar o banco pronto para operar, não excluindo a necessidade de ratificação por parte dos Congressos.
Para Roberto Fendt, é interessante que o novo banco esteja pronto para operar no prazo mais curto possível. Entretanto, dada a lentidão típica do parlamento brasileiro e o fato de o Senado estar com sua pauta dominada por outros temas mais urgentes (como o ajuste fiscal), ele considera demasiadamente otimista a previsão de Siluanov, mas ficaria "agradavelmente surpreso" caso a expectativa do ministro russo se confirmasse.
"Nós temos, no Brasil, uma relativa lentidão na ratificação de acordos internacionais. Isso já aconteceu antes, não é a primeira vez que o Brasil não tem a velocidade que, muitas vezes, outros países com os quais nós temos acordos ratificam em seus parlamentos o que foi acordado".