O chefe do departamento do Ministério das Relações Exteriores para questões de não proliferação e controle de armas, Mikhail Ulyanov, concedeu uma entrevista à correspondente especial Mariya Kiseleva da agência noticiosa russa RIA Novosti.
– Será que a relevância do Tratado INF [Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio] continua em uma altura em que a Rússia e os EUA se acusam mutuamente de violá-lo?
– Com certeza, o contrato ainda é importante na situação atual. No devido tempo ele desempenhou um papel muito importante no início do desarmamento nuclear real. Ao que sei, os Estados Unidos não planejam se retirar do tratado, e nós também não. Mesmo quando alguns especialistas dos Estados Unidos dizem que Washington deveria sair este tratado. A administração dos EUA não compartilha desse ponto de vista.
As reclamações mútuas realmente existem. E para eliminá-las serão utilizados os canais diplomáticos.
– E podemos agora dizer que existe uma estagnação no desarmamento nuclear bilateral da Rússia e dos Estados Unidos?
– A noção de que há uma estagnação nas relações entre a Rússia e os Estados Unidos em matéria de desarmamento nuclear é muito popular. Mas isso não é verdade e induz muitos em erro.
E existe o novo tratado de 2010 que agora está sendo implementado. Daqui a três anos, em 5 de fevereiro de 2018, a Rússia e os EUA deverão chegar aos níveis que foram estabelecidos no tratado. Quer dizer, o processo está em andamento. Eu não entendo que tipo de estagnação está em questão. Talvez fosse melhor dizer que um número significativo de países gostaria de acelerar significativamente o ritmo do desarmamento nuclear, mas isso é a outra questão, não se trata de estagnação.
– Nos últimos anos, a OTAN tomou medidas para intensificar as atividades nas imediações das fronteiras da Rússia. Será que a Aliança viola os acordos existentes entre a Rússia e a OTAN?
– Estamos monitorando de perto o que está acontecendo na política da OTAN no chamado flanco oriental. Oficiais da OTAN usam às vezes tais expressões estranhas como "Estados da linha de frente" como se vivêssemos em tempo de guerra. E, a propósito, essas definições mostram que existem problemas sérios na OTAN no que toca à avaliação objetiva da situação atual.
Mas, em todo o caso, a Aliança aumentou fortemente o número de exercícios militares perto das fronteiras da Rússia, armazena ativamente equipamento militar, cria algumas “células” de pessoal, etc. Tudo isso, na verdade, é uma tentativa de iniciar um grave confronto, pelo menos potencialmente. Repito, estamos acompanhando a situação de perto.
– Anteriormente foi relatado que os militantes do grupo radical Estado Islâmico supostamente usam bombas contendo cloro durante os combates contra o exército iraquiano. Temos ou não a confirmação de tal informação? E pretendemos levantar esta questão no âmbito das organizações internacionais?
Na verdade, foram mais casos semelhantes e nós levantámos estas questões na Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), e no Conselho de Segurança da ONU, especialmente desde que a resolução 2118 do Conselho de Segurança, adotada no outono de 2013, quando começou a militarização química na Síria. A resolução continha disposições que indicavam o perigo de substâncias químicas poderem ir parar às mãos de grupos não-estatais, e agora isso está acontecendo.
Mas ainda não tivemos sucesso em alcançar qualquer resposta eficaz. Tenho a impressão de que os nossos parceiros ocidentais estão prontos para fechar os olhos a estes fatos, pois tais fatos estragam a imagem prática e confortável que têm da situação, segundo a qual a responsabilidade pelos crimes cabe a Damasco oficial, e todos os outros são “bonzinhos”. É uma política muito limitada. Espero que sejamos capazes de revertê-la.
– Como está atualmente a situação em torno da ratificação pelos vários países do Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares?
– A situação da ratificação deste tratado nos últimos anos não mudou significativamente. Há um mês, a 20 de março, o tratado foi ratificado por Angola. Saudamos este fato, que nos parece positivo. O número de países que ratificaram o tratado já atingiu 164, ao todo, o documento foi assinado por 183 países.
Estes números são significativos e, em princípio, deveriam incutir otimismo mas, na realidade a entrada em vigor do tratado ainda está muito, muito longe, visto que, para isso, é necessária a ratificação por ainda mais oito países da chamada “lista dos 44”. Se trata da Coreia do Norte, da Índia e do Paquistão, que nem sequer assinaram o tratado, bem como de cinco países que assinaram mas não o ratificaram: Israel, Egito, Irã, EUA e China. Se a sua ratificação, o tratado não poderá entrar em vigor e as perspectivas nesta área são extremamente incertas.
Por isso, a chave para o progresso, na minha opinião, está nas mãos da administração dos EUA. Por um lado, os representantes estadunidenses, junto com os outros integrantes do “quinteto nuclear”, apelam a todos os países a ratificarem rapidamente, mas parece que dirigem este apelo não a si próprios, mas aos outros que ainda não o fizeram. Em todo o caso, é impossível contar com a rápida entrada em vigor do tratado e, muito provavelmente, esta situação indeterminada pode arrastar-se ainda durante muito tempo, se Washington não cumprir as suas promessas e obrigações.