Sobre esta iniciativa das esposas dos opositores e sobre o fato de o Senado recebê-las, oespecialista em políticas latino-americanas Professor Rafael Araújo diz que a oposição brasileira, especialmente o PSDB, há anos vem apoiando os opositores venezuelanos. Mas, em relação ao fato de o Presidente do Senado Renan Calheiros dar apoio às reivindicações dessas senhoras, o Professor Araújo opina: “O fato de Renan Calheiros pertencer ao PMDB, partido da base aliada do Governo ao qual também pertence o vice-presidente da República Michel Temer, mostra que neste momento há uma clara fragilidade no Governo, e que o presidente do Senado está claramente demonstrando a sua independência em relação à Presidência da República.”
Apesar de aconselhada por Renan Calheiros a receber as venezuelanas, Dilma Rousseff preferiu não acatar a orientação do presidente do Senado, limitando-se a enviar-lhes uma carta, assinada por seu chefe de Gabinete.
Nesta quinta-feira, em depoimento feito em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, a ativista Lilian Tintori de López criticou duramente o regime do Presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, e pediu ao Brasil que “se levante e alce sua voz para ajudar cada venezuelano a levantar as bandeiras da democracia e dos direitos humanos”.
Mulher do líder de oposição Leopoldo López, ela estava acompanhada de Mitzy Capriles de Ledesma, esposa do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, também preso, e de Rosa Orozco, que teve uma filha morta durante manifestação em Caracas. “O mundo inteiro sabe que na Venezuela não se vive em uma democracia. Mais de 80% dos venezuelanos pedem mudança. Necessitamos de ajuda dos países da região” – disse Lilian Tintori, citada pela Agência Senado.
“Acredito que os números de Lílian Tintori são um pouco exagerados”, diz o Professor Rafael Araújo, autor de dois livros sobre a Venezuela: “A História do Tempo Presente, Venezuelana, de 1958 ao Século XXI” e “A Era Chávez e a Venezuela no Tempo Presente”. Ele explica: “Nicolás Maduro venceu a eleição presidencial de 2013 com apoio popular e, por mais que a vitória tenha sido apertada, venceu o pleito com mais de 50% dos votos. Eu acho que este apelo não vai sensibilizar o Governo brasileiro. O Governo vai se prender a este argumento, de que o povo venezuelano é soberano e escolheu livremente o seu presidente. Então, se, de fato, há 80% dos venezuelanos contrários a Nicolás Maduro, a Constituição permite que, ultrapassados dois terços do mandato presidencial, seja feita uma petição, com o mínimo de um milhão de assinaturas, para que seja convocado um referendo revogatório deste mandato, algo que a oposição fez com Hugo Chávez em 2005. Eu, particularmente, não acredito que o Governo brasileiro vá se sensibilizar com os argumentos destas senhoras.”
Além de participarem da audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, os senadores de oposição Aloysio Nunes (presidente da Comissão) e José Serra, ambos do PSDB de São Paulo, estiveram no Ministério das Relações Exteriores para tentar agendar uma entrevista com o Ministro Mauro Vieira, mas não tiveram êxito. Porém, no final da reunião da Comissão, foram informados de que as senhoras venezuelanas seriam recebidas pelo chefe do Departamento de América do Sul 2, Embaixador Baena Soares.
O Senador Lindbergh Farias (PT-RJ) prestou “profunda solidariedade” às venezuelanas que estiveram na Comissão, mas alertou que a “pior coisa que pode acontecer com a Venezuela, para o Brasil, é aquele país descambar para uma guerra civil”. Por isso, defendeu a busca de conciliação pela diplomacia brasileira.
A Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) também defendeu a busca de diálogo entre governo e oposição no país vizinho, mas observou que a Venezuela já tem “elementos frequentes de aferição da democracia”.
Ainda sobre a visita ao Senado das esposas dos líderes oposicionistas venezuelanos presos, o Professor Rafael Araújo afirma: “Apesar de eu discordar dos números apresentados por estas senhoras, até porque, historicamente, as divergências entre chavistas e oposicionistas jamais chegaram a este patamar na Venezuela, considero que os dois lados, situacionistas e oposicionistas, precisam ser ouvidos e ter as suas razões analisadas e ponderadas.”