O périplo do responsável chinês pela América Latina, que começa hoje (18), inclui ainda a Colômbia e o Chile.
Os altos responsáveis chineses são visitas frequentes na América Latina. O presidente Xi Jinping, nos dois anos e pouco que está no poder, já visitou esta região duas vezes. No verão passado, a sua visita ao Brasil coincidiu com o pico de tensão nas relações entre Brasília e Washington. Os EUA recusaram veementemente pedir desculpas pela espionagem contra a presidente brasileira, nem sequer quiseram dar garantias de que tal não se repetiria no futuro. O escândalo acabou definitivamente com as ilusões do Brasil quanto a uma cooperação em pé de igualdade com os EUA, o que deu à China uma nova chance de pressionar os americanos no mercado brasileiro.
A China e a América Latina estão descobrindo novas esferas de colaboração. Estas devem ser confirmadas durante a presente visita: prevê-se a assinatura de dezenas de acordos. Anteriormente a cooperação decorria de forma bastante primitiva. A China comprava à América Latina matérias-primas e produtos alimentares e vendia produtos industriais. Agora trata-se da passagem para a esfera das altas tecnologias, projetos de infraestrutura, serviços financeiros. Isto interessa muito mais aos países latino-americanos. A China obtém ainda trunfos adicionais na concorrência com os EUA e a União Europeia nestes mercados. A atual visita ajudará a criar um novo modelo de relações entre a China e a América Latina.
O reforço da colaboração entre a China e o Brasil, em última análise, contribuirá para o reforço das posições do BRICS na política e economia mundiais, considera Piotr Yakovlev. A visita de Li Keqiang confirma a parceria estratégica entre os países integrantes do BRICS.
A presidência russa dos BRICS e a cúpula em Ufa deverão confirmar esta linha de desenvolvimento do grupo e dar-lhe um novo impulso. A colaboração decorre em um formato multilateral. Um exemplo é a criação do Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente de Reservas. Mas há também o quadro bilateral, que se traduz nomeadamente no alargamento e aprofundamento da colaboração entre a China e o Brasil. Sendo igual em direitos e com vantagens mútuas, tal colaboração aumenta a autoridade dos BRICS na América Latina e no mundo em geral.
Não é por acaso que a Argentina é considerada um dos potenciais candidatos a integrar o BRICS, caso surja a questão do alargamento do grupo. Por enquanto, a cooperação entre a China e o Brasil dá um sinal importante aos outros países do continente: estão surgindo agora condições favoráveis para estes se libertarem da tutela imperial dos EUA e buscarem alternativas para o desenvolvimento e cooperação, sem diktats e ultimatos.