Se, na época que antecedeu o Mundial da FIFA de 2014, as manifestações de rua por todo o país que pregavam “Não Vai Ter Copa” ameaçavam impedir a realização, no Brasil, da maior competição do futebol internacional, agora os motivos para um possível fracasso dos Jogos Olímpicos de 2016 parecem mais reais.
Por outro lado, se no período pré-Copa do Mundo 2014 as visitas dos dirigentes da FIFA ao Brasil eram marcadas sempre por dúvidas e críticas ao andamento dos preparativos – e o secretário-geral da Federação Internacional, Jerôme Valcke, chegou a ameaçar “dar um chute no traseiro” das autoridades da Confederação Brasileira de Futebol –, agora os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional fazem apenas elogios ao Comitê Organizador Rio 2016.
Mas os Jogos do Rio, que se esperava repetissem o enorme sucesso das Olimpíadas de Inverno de Sochi 2014, podem ser prejudicados pela greve iniciada na segunda-feira e que se estenderá pelo menos até o fim de semana.
Os trabalhadores em greve são responsáveis por obras como a do Parque Olímpico de Deodoro, do Estádio do Engenhão, da região do Porto, do Aeroporto Internacional Tom Jobim e outras de infraestrutura para o evento, como a expansão do Metrô do Rio e a finalização dos corredores de ônibus Transbrasil e Transolímpico.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada, Nilson Duarte Costa, a paralisação acontece como reação ao sindicato patronal nas negociações que pedem aumento salarial e do auxílio-alimentação, além de melhores condições de trabalho.
O dirigente sindical informa que as negociações com os patrões tiveram início em janeiro deste ano, data-base da categoria, mas, diante da crise econômica, as empresas não cederam à demanda inicial da categoria, que era de reajuste salarial de 15%. A categoria agora reivindica 8,5% de ajuste salarial e aumento da cesta básica para R$ 350. Porém, o sindicato patronal só oferece 7,13%, referente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) apurado em fevereiro deste ano, data-base da categoria, e uma cesta de R$ 332. “Após 3 meses de negociações e 6 reuniões, os patrões chegaram a apenas 7,13%. A greve só aconteceu por intransigência patronal.”
Para tentar resolver a situação, o Tribunal Regional do Trabalho marcou para sexta-feira (22) uma audiência de conciliação entre representantes dos trabalhadores e das empresas.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada espera que se chegue a um acordo durante a reunião, pois, em caso contrário, a greve vai continuar e aí, sim, a paralisação das obras ligadas aos Jogos Olímpicos pode prejudicar o cronograma dos organizadores do megaevento. “Nós esperamos que os juízes entendam a necessidade de fazer essas correções solicitadas pelos trabalhadores. Nos próximos 10 dias, se até lá tudo estiver resolvido, não haverá problema nenhum com relação à entrega das obras, mas, se passar disso, já começa a complicar e pode haver algum prejuízo.”
Conforme determinação da Justiça do Trabalho, a categoria deve manter em ação pelo menos 30% do efetivo dos trabalhadores, de forma a não paralisar completamente as obras, fato que, de acordo com Nilson Duarte Costa, está sendo cumprido. O sindicalista reclama não terem ainda recebido a lista das obras que são prioridades no Rio. “Hoje a adesão ao movimento é de 70%. Eles não informaram até o presente momento quais são as obras consideradas serviços essenciais, e quais os profissionais envolvidos nesses serviços essenciais.”
Enquanto algumas concessionárias, como a RioGaleão, responsável pela reforma do Aeroporto Tom Jobim, negaram a paralisação dos trabalhadores da construção pesada e afirmaram que os cronogramas normais serão mantidos, outras esperam a resolução rápida do impasse, como o Consórcio Engenhão e a Concessionária Porto Novo, onde ambos ressaltam que cumprem as legislações trabalhistas e esperam que a situação seja definida na sexta-feira para que as operações normais sejam retomadas. Já o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos ainda não se pronunciou sobre a situação.
Esta não é a primeira vez que as obras para os Jogos Olímpicos 2016 são afetadas por greves. Em abril de 2014, trabalhadores do Parque Olímpico cruzaram os braços por duas semanas, também por reivindicações referentes a reajustes salariais e de benefícios.
Diversas centrais sindicais planejam uma paralisação geral no próximo dia 29 de maio. A manifestação tem como foco a aprovação das Medidas Provisórias 664 e 665, que alteram direitos trabalhistas e previdenciários e fazem parte do ajuste fiscal do Governo, e contra o PL 4.330, que libera a terceirização irrestrita de mão de obra no país.