Kamenev destaca que ainda é baixa a proporção de produtos com alto valor agregado, e que os dois países deverão mover-se no sentido de uma aliança tecnológica capaz de levar a grandes patamares no intercâmbio comercial.
A seguir, a entrevista com o Cônsul Konstantin Kamenev.
Sputnik: O que justifica a expectativa de que as trocas comerciais entre Brasil e Rússia atinjam em breve o patamar dos 10 bilhões de dólares?
Konstantin Kamenev: Esta meta foi formulada no encontro dos nossos presidentes em Moscou, em dezembro de 2012, e foi reafirmada na Cúpula dos BRICS em Fortaleza, em julho de 2015.
S: Qual o valor atual da balança comercial Rússia-Brasil?
KK: Em 2014 nós já elevamos o volume do intercâmbio comercial para o patamar de US$ 6,7 bilhões. Eu acredito que poderemos chegar a US$ 10 bilhões nos próximos 2 ou 3 anos. Penso que é bem realístico atingir essa meta, já que o incremento de 2014, em comparação com 2013, foi de mais de US$ 1 bilhão.
S: O agronegócio desempenha um papel primordial no relacionamento comercial Brasil-Rússia. As importações russas de produtos brasileiros se constituem predominantemente de carnes?
KK: O Brasil continua vendo a Rússia como um mercado prioritário para produtos agropecuários, e a exportação brasileira está formada em mais de 90% por produtos agropecuários. Em primeiro lugar, a carne bovina, 34,3% do volume total, com 315 mil toneladas, no valor de US$ 1,315 bilhão. Depois, a carne suína, 21,2% do volume total das exportações, com 185 mil toneladas, no valor de US$ 809,4 milhões. Em seguida vêm açúcar, carne de frango, soja, tabaco, café em grão e depois café solúvel.
S: E que itens o Brasil importa da Rússia?
KK: Primeiramente, fertilizantes, mercadoria tradicional do comércio Rússia-Brasil. Também vários produtos químicos, metais, óleo diesel, várias resinas, metais raros, peças para computadores, produtos eletrônicos, produtos do setor técnico-militar, peças para navios, trilhos e toda uma ampla gama de itens. Mas o problema é que é baixa a porcentagem das mercadorias, tanto do Brasil como da Rússia, com alto valor agregado, e nós poderíamos mover-nos no sentido de uma aliança tecnológica para atingir grandes patamares, como, por exemplo, o Brasil tem com a China, apenas aumentando a parcela dos produtos com alto valor agregado em nosso intercâmbio comercial.
S: E que projetos bilaterais envolvendo investimentos no Brasil o senhor gostaria de destacar?
KK: A companhia russa Uralkali tem um projeto de investimentos para ampliar o porto paranaense de Antonina, aí se incluindo a construção de dois terminais na Ponta do Félix, com capacidade para 120 mil toneladas cada, e melhoramento da logística do porto inteiro, num total de R$ 160 milhões, num prazo de 6 anos. Também um consórcio de companhias tem anunciado a criação de uma joint venture, uma empresa mista, com uma cooperativa de agricultores da região de Orlândia, em São Paulo. O projeto prevê a produção conjunta de soja num volume de 3 milhões de toneladas até o ano de 2016.