O ataque ao cardiologista acirra ainda mais a discussão no país sobre redução da maioridade penal, já que o crime teria sido praticado por dois menores.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, garantiu que está reforçando o patrulhamento e monitorando vários bairros das cidades do Estado, e que estão sendo analisadas novas ações de combate ao crime no Rio de Janeiro, inclusive com a contratação de mais 1.500 policiais militares e 750 policiais civis. “Nós não temos a utopia de que estamos acertando em tudo”, disse o governador. “Mas estamos fazendo um trabalho grande de combate à criminalidade. Mesmo com um ano difícil nas finanças, nós contratamos mais policiais. É lamentável uma morte como essa na Lagoa, mas não podemos desestimular o trabalho que a Polícia tem feito. Batemos o recorde de prisões de menores – 63% das prisões que nós fizemos foram de menores. É inaceitável. Lugar de menor é na escola.”
Luiz Fernando Pezão explica que não se exime de responsabilidade pela situação da segurança no Rio, mas o problema também está relacionado à aplicação das leis pela Justiça brasileira. O governador do Rio tem defendido nos últimos meses a redução da maioridade penal para crimes hediondos e o endurecimento de penas para os casos de assassinato de policiais. Para Pezão, não adianta a Polícia efetuar prisões se no dia seguinte a Justiça solta os criminosos. “Não transfiro responsabilidade. A responsabilidade pela Segurança Pública é minha. Só quero que a gente faça uma discussão sobre as nossas leis no Congresso Nacional. Eu não quero que a Polícia trabalhe com leis em que a gente fique enxugando gelo.”
Sobre o caso da morte do médico na Lagoa, Pezão admitiu que houve falhas no policiamento da região. “Não vou me omitir das minhas responsabilidades. Houve erro na Lagoa. Eu mesmo passei e vi. Passei às 22h na Lagoa e achei que havia poucos policiais. Cobrei o Pinheiro Neto (comandante da Polícia Militar). E, na mesma hora em que eu cobrei, veio a resposta. Os PMs haviam prendido oito menores do Jacarezinho que estavam assaltando, e os levaram para a delegacia. Foi feito o registro. Então, nós estamos trabalhando.”
Um menor de 16 anos suspeito de esfaquear e matar o médico Jaime Gold foi apreendido pela Delegacia de Homicídios na manhã desta quinta-feira (21). O adolescente foi identificado na delegacia por testemunhas do crime. Segundo a Polícia, o menor tem pelo menos 15 anotações criminais, sendo 5 delas por roubo com arma branca. Os agentes agora estão atrás de um segundo suspeito de participar da morte do cardiologista, e que também seria menor de idade.
O corpo do médico Jaime Gold foi enterrado na manhã desta quinta-feira (21), no Cemitério Israelita do Caju, na Zona Norte do Rio.
Na semana passada, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, também tinha chamado a atenção para a legislação, que não ajuda a Polícia a deter alguns tipos de criminosos, como os que usam armas brancas, por exemplo, facas. “Eu acho que é uma questão social e uma questão legal. Se a lei diz que usar faca não é crime. Se a lei diz que fazer o que eles [menores] fazem não é crime, as pessoas precisam entender, então, que é assim que é a lei, é assim que é a nossa democracia, e é assim que as coisas funcionam. Então não culpem única e exclusivamente a Polícia.”
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública referentes a 2014 e ainda não divulgados oficialmente, 225 pessoas morreram no Estado do Rio de Janeiro vítimas de crimes praticados com armas brancas. O levantamento aponta ainda que 2.183 casos de mortes ou ferimentos foram causados por facas, estiletes ou canivetes – armas de que a legislação permite que qualquer cidadão seja portador.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, nos primeiros quatro meses deste ano 167 vítimas de arma branca foram atendidas nas quatro principais emergências de hospitais municipais da cidade.
Ciclistas e frequentadores da Lagoa Rodrigo de Freitas vão se reunir neste fim de semana para protestar contra a violência na área.
No próximo sábado (23), vai ser realizada uma missa campal na Lagoa, e após a missa os ciclistas presentes vão pedalar até o Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado, em Botafogo. No domingo (24), também será realizada uma passeata percorrendo toda a Lagoa Rodrigo de Freitas em protesto pelo aumento da violência na região.