O lema da campanha eleitoral de Poroshenko foi "Viver de outra maneira". Durante a corrida presidencial Poroshenko prometeu resolver a crise em Donbass, reaver a Crimeia, descentralizar o poder, aumentar os salários e pensões, eliminar corrupção e criar um novo sistema jurídico mais justo.
Em vez de resolver a crise no leste da Ucrânia, o país foi envolvido em um conflito duradouro, que, apesar de todos os esforços de líderes mundiais, ainda está longe de ser resolvido. Poroshenko falhou claramente em cumprir suas promessas.
Ele também prometeu eliminar no primeiro ano os vistos com a União Europeia, no prazo mais curto possível aplicar o tratado de livre comércio com a UE e, no final de cinco anos no poder, como resultado das reformas, começar o diálogo sobre a adesão da Ucrânia à UE.
Conflito em Donbass
O conflito em Donbass já passou por várias etapas. No início da sua presidência, Poroshenko, que também é comandante em chefe do exército da Ucrânia, tentou retomar o controle da região usando a força militar. Mas, após a ofensiva militar não ter mostrado o efeito desejado, no verão de 2013 Poroshenko concordou em começar as negociações. Com a mediação da Alemanha, França e Rússia, Kiev chegou a acordo sobre a resolução do conflito em Donbass nas negociações na capital bielorrussa, Minsk.
Segundo os Acordos de Minsk assinados em 12 de fevereiro de 2015, as autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk deveriam voltar a integrar a Ucrânia, mas só no caso de Kiev dar às autoridades locais vastos poderes. Kiev também não tem pressa em cumprir esta promessa.
De acordo com as últimas pesquisas de opinião pública, o ranking do presidente da Ucrânia caiu drasticamente. De acordo com a pesquisa da empresa Research&Branding Group, a popularidade do chefe de Estado ucraniano caiu desde as eleições de 53% para 33%. Este fato significa que o nível de desconfiança popular em relação à política de Poroshenko aumentou.
Para além do mais, entre a população e os analistas políticos existe a opinião que Poroshenko não tem pressa em pôr fim ao conflito em Donbass porque ele distrai a atenção da falta de sucesso na sua política interna.
Viver de outra maneira
As questões do desenvolvimento social-econômico são de competência do governo ucraniano, mas o presidente, como garantidor da Constituição, dos direitos e liberdades fundamentais de cidadãos, também tem responsabilidade nestas questões. Vários ministros do Bloco de Pyotr Poroshenko integram o governo.
Enquanto isso, todos os esforços de Kiev são dirigidos para receber ajuda financeira do FMI de maneira a evitar a falência. Para receber empréstimos novos, as autoridades ucranianas concordaram com as condições pesadas do FMI de cortes orçamentais, à custa dos interesses dos cidadãos.
O governo da Ucrânia em 2015 parou o aumento dos salários e aposentadorias mínimas, tenciona reduzir o número de funcionários públicos (no ano que vem cerca de 20% dos funcionários serão despedidos, o que equivale a cerca de 50 mil pessoas). As tarifas de serviços públicos foram aumentadas e agora os ucranianos gastarão mais de metade do seu salário só para pagar os serviços essenciais (água, eletricidade, aquecimento, etc.).
União Europeia perdeu interesse na Ucrânia
Após a oposição pró-europeia ter chegado ao poder na Ucrânia, a Europa começou a prestar ajuda política na questão de resolução da crise no Leste do país bem como ajuda econômica, alocando grandes empréstimos.
Poroshenko, de acordo com suas promessas de setembro de 2014, assinou o acordo de associação da Ucrânia à União Europeia, ratificado pelo Parlamento Europeu e Suprema Rada (parlamento) da Ucrânia. Apesar disso, a parte básica do acordo sobre a zona de livre comércio foi adiada até 2016. Estes são todos os avanços de Kiev no que toca à integração europeia.
Um ano depois, nas relações entre Ocidente e Kiev existe uma tendência de afastamento. A União Europeia e os EUA apoiaram as reformas de Kiev, mas agora estão insatisfeitas com o tempo que estas demoram a dar efeito. Para além disso, de acordo com a mídia, o Ocidente está descontente com os atrasos de Kiev na aplicação dos Acordos de Minsk.
A União Europeia parece ter começado a dar “marcha à ré” na política relativamente à Ucrânia, fato evidenciado na reunião de cúpula da Parceria Oriental em Riga. Kiev queria negociar a livre circulação de pessoas com a UE, mas os planos falharam porque a Europa indicou que Kiev não tinha cumprido uma série de requisitos.
Em particular, isto tem a ver com a necessidade de a Ucrânia implantar as normas internacionais de controle de passaportes e luta contra a criminalidade. A Europa tem medo de um possível fluxo de criminosos provenientes da Ucrânia, onde o conflito militar continua latente.
Agora a parte ucraniana planeja cumprir as exigências da União Europeia e eliminar os vistos a partir de 2016.
Uma situação ainda mais pessimista verifica-se no que tange à promessa de Poroshenko de começar o diálogo sobre a entrada da Ucrânia na UE. Na reunião em Riga Kiev queria ouvir o reconhecimento oficial da perspectiva de adesão à UE. Mas os responsáveis europeus declararam inequivocamente que não está pronta nem sequer para reconhecer a possibilidade de integrar a Ucrânia.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, declarou que ainda não há perspectivas de integração da Ucrânia bem como de outros Estados da antiga União Soviética (Moldávia, Azerbaijão, Armênia, Geórgia e Bielorrússia, os países da chamada Parceria Oriental).
Ucranianos desiludidos com Poroshenko
Na véspera do primeiro aniversário da chegada de Pyotr Poroshenko à presidência ucraniana, que se assinala hoje, a agência de sondagens ucraniana TNS Online Track publicou uma pesquisa de opinião, que mostra que 51% dos ucranianos estão totalmente ou parcialmente insatisfeitos com o desempenho do seu presidente. Somente 17% se mostram satisfeitos.
A pesquisa confirma uma outra realizada pela agência Research & Branding Group, segundo a qual 58% dos ucranianos desaprovam a política do presidente e quase 19% votariam nele mais uma vez, mas 30% (quase um terço dos entrevistados) votariam 'contra todos' ou ficariam em casa nas eleições.
Os números são uma dura condenação para um presidente que acaba de celebrar um ano no poder, poder que assumiu em um momento de esperança na paz, prosperidade e em um brilhante futuro europeu.