Com as mudanças, a equipe econômica aumentou para 1,2% a previsão de retração do PIB, o Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país. Anteriormente, o Governo previa para 2015 uma contração de 0,9%.
Raul Velloso acredita que as decisões apresentadas pelo Governo não devem ser suficientes, e podem aumentar os riscos de aumento tributário. “Eu acho que o risco de não conseguir bater a meta aumentou. Se o Governo ficar tranquilo em relação ao cumprimento da meta, ele vai ter que fazer um ajuste adicional, que pode ser feito ao longo do resto do ano, ou, eventualmente, até pensar na péssima hipótese de aumentar a carga tributária.”
Segundo o economista, o Brasil precisa reduzir o gasto corrente excessivo que vem fazendo nos últimos anos, porque, na hora em que precisa ajustar, o Governo acaba ajustando o gasto de investimento e não o gasto corrente, que deveria ser o alvo do ajuste.
Sobre o reflexo negativo que os cortes em setores de infraestrutura, segurança e educação poderão trazer para o Governo em relação às eleições municipais de 2016, Raul Velloso explica que qualquer ajuste é ruim e desgasta politicamente, porém o pior é o efeito que isso vai ter na economia brasileira. “Nós estamos vivendo uma situação de plena utilização da capacidade produtiva, e a economia só sairá do marasmo em que está se a gente puder ampliar a capacidade de produção. Só se amplia a capacidade de produção por meio do aumento dos investimentos, mas os investimentos estão sendo cortados, ao invés do gasto corrente. Como se vai ampliar a capacidade de produção e permitir um maior crescimento da economia, e fazer de forma natural a arrecadação de tributos para nos tirar do buraco fiscal em que nós nos encontramos, se os investimentos estão sendo cortados?”
Apesar da crise interna, Raul Velloso não acredita que os cortes anunciados vão prejudicar os investimentos estrangeiros no Brasil. “Eu acho que não prejudicam, pois o dinheiro externo está muito mais associado à classificação de bom pagador que o Brasil tem hoje, que é o chamado grau de investimento das agências de risco, do que a qualquer outra coisa. À medida que o ajuste se consolide, cessa o temor de que se perca a classificação. Cessando o temor, o dinheiro vai continuar fluindo normalmente para o país.”