Para o economista Roberto Fendt, diretor-executivo do Cebri – Centro Brasileiro de Relações Internacionais, uma taxa de juros desta proporção obriga, inevitavelmente, a uma reavaliação do uso do dinheiro, o que implica diretamente na queda do consumo das famílias.
Roberto Fendt sustenta que, além de reduzir o volume das compras parceladas, a sociedade irá reavaliar a sua prioridade de gastos, uma vez que a tendência da Taxa Selic é de progressão ainda maior dos juros.
Na opinião do economista, as atenções devem se voltar agora para a próxima reunião do Copom, no mês de julho. Fendt diz que não se surpreenderá se a Taxa Selic seguinte chegar aos 14%. E daí para mais, no decorrer dos meses subsequentes.
Sobre a tomada de decisão do Copom, o economista Roberto Fendt comenta: “Como a decisão foi tomada por unanimidade, coloca-se uma nova pergunta: por que os membros do Comitê de Política Monetária unanimemente acharam importante aumentar a Taxa Selic? Obviamente, a conclusão a que se chega é que todos eles, em conjunto, acreditam que a inflação não vai ceder, exceto com doses maiores e mais maciças de taxas de juros. Lembro que o aumento dessa taxa baliza todas as demais taxas de juros da economia. Então, a taxa do depósito à vista, quando a pessoa entrar no crédito especial, vai aumentar, o cartão de crédito provavelmente vai aumentar também, o financiamento para bens duráveis e outros produtos que são vendidos financiados a essa taxa vai aumentar, e com isso a prestação. Enfim, toda essa cadeia de eventos vai acontecer, e em decorrência o consumo das famílias provavelmente se reduzirá. Essa é a lógica que norteia a fixação da Taxa Selic.”
À pergunta de por que os membros do Banco Central acreditam que a inflação não vai ceder, se, afinal, há um programa de ajuste em curso, o diretor-executivo do Cebri responde: “Seria de se imaginar que, com o desaquecimento da economia, as pessoas se tornassem mais cautelosas em suas decisões de compra, e comprariam menos. Em decorrência disso, de as pessoas provavelmente comprarem menos, os preços começariam a ceder e não aumentariam tanto quanto estariam aumentando em outras circunstâncias. Mas, aparentemente, o Banco Central não acredita nisso. O BC acredita que não, que ele tem que tomar medidas para continuar elevando a taxa de juros, porque, no fundo, ele não acredita no sucesso, pelo menos em curto prazo, do programa de ajustamento.”
“É uma situação muito curiosa”, destaca Roberto Fendt, “porque, num certo sentido, eles talvez tenham certa razão, porque essa crescente autonomia, eu diria quase que total independência do Congresso Nacional em relação ao Executivo vem fazendo com que diversas medidas de aumento de gastos – não de redução, mas de aumento de gastos – estão aí na programação para ocorrer, e o Banco Central, que é responsável por trazer a inflação de volta para a meta, deve estar se sentindo sozinho nesse esforço, quando seria natural que a responsabilidade por trazer a inflação de volta fosse compartilhada entre o Tesouro Nacional e o BC. Como não é assim, o BC vai aumentando a taxa de juros.”
“Nós continuamos assistindo a um momento muito grande da expansão do crédito”, relata Roberto Fendt. “Esse é outro aspecto que se pretende conter através do aumento da taxa de juros. A questão toda é que nos bancos privados o crescimento do crédito já vem bem abaixo da inflação dos últimos doze meses. O crédito está crescendo um pouquinho acima de 6%, e a inflação dos últimos 12 meses foi superior a 8%. Então, à primeira vista, não haveria muito que conter, porque, na verdade, descontada a inflação, o crédito está crescendo abaixo dela. O que continua crescendo é a inflação dos bancos oficiais. Esses bancos oficiais pertencem ao Governo Federal. Então, como tal, seria possível ao Governo controlar a expansão do crédito nos bancos públicos. Acredito que o fará, mas até o presente momento ainda não estão com uma taxa de crescimento similar à dos bancos privados. Tudo isso vem num certo sentido atrasando um pouco o plano de ajustes, jogando nas costas do BC a responsabilidade integral por conter a inflação. Todas essas medidas são muito ruins no sentido da expectativa dos agentes econômicos, porque a impressão que fica é que de fato nem o próprio Governo acredita no sucesso do plano de ajuste pelas medidas que estão sendo tomadas pelo BC. Recorde-se que nem o partido da presidente vem acreditando no ajuste fiscal, ou faz ouvido mouco, finge que não viu, finge que não sabe ou é literalmente contra. Tudo isso cria um ambiente em que fica muito difícil o BC afrouxar a taxa de juros. Eu não tenho nenhuma expectativa de que isso vá acontecer em curto prazo.”
O economista Roberto Fendt explica se o aumento da taxa de juros é uma política eficaz para conter a inflação: