Durante o primeiro dia do XIXº Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF 2015), que tem lugar até domingo no centro de exposições Lenexpo, foi assinado um acordo prévio sobre a construção de um gasoduto que será capaz de resolver a crise energética europeia.
As partes são a Gazprom (Rússia), E.On (Alemanha), Shell (Holanda) e OMV (Áustria). Em plena "guerra de sanções", um acordo entre essas empresas soa realmente como um avanço importante.
Além destas, há outras empresas que podem participar do projeto. Várias delas, como a alemã Wintershall, criticam as tentativas da União Europeia de reduzir o papel da Rússia como principal fornecedor do gás.
"Os planos da União Europeia de diversificar os fornecimentos do gás natural, excluindo a Rússia, não serão possíveis. A diversificação é destinada ao fracasso se a Europa escolha a estratégia de ‘Qualquer coisa que seja, mas sem a Rússia'", disse Mario Mehren, presidente da Wintershall.
Nova época
Para Alexander Rahr, cientista político alemão e autor do livro "A Rússia Dá o Gás", o acordo marca uma nova época da energia na Europa. Segundo ele, a crise energética de 2009 foi aliviada pelo lançamento do projeto Nord Stream (Corrente do Norte), com dois gasodutos construídos, respectivamente, em 2010 e 2012:
"E se agora mais dois gasodutos se juntam a eles, o terceiro e o quarto, com mais 55 bilhões de metros cúbicos [de gás], a Europa irá receber, através do fundo do mar Báltico, mais de 100 bilhões de metros cúbicos. Com isso, ela irá garantir para si uma quantidade suficiente de gás, independentemente de qualquer país de trânsito com os seus jogos políticos".
A causa disso é o fundo do mar Báltico, território que não é mencionado no terceiro pacote energético da União Europeia.
"O gás russo será fornecido para as fronteiras da Alemanha e transferido para além delas sem violar o terceiro pacote energético da UE", assegurou Alexander Rahr.
Claro que a UE sempre pode aumentar o âmbito das sanções contra a Rússia. Recentemente, as prorrogou. Mas ampliá-las para que abranjam o território marítimo livre seria uma "autopunição" para a Europa, acredita Rahr.
Nas atuais condições, há certa contradição entre a posição oficial das autoridades políticas da União Europeia e o setor empresarial. Há muito que os empresários concordam que as restrições europeias impostas contra a Rússia são contraproducentes para a própria Europa. A vontade de fazer bom negócio tem que lidar com a tática de cercas.
E para Rahr, o negócio assumiu agora o papel de socorrista econômico:
"[Os empresários] tornaram-se mais sensatos e pragmáticos, eles veem com que jeito é melhor comunicar-se entre si. E é isso o que vemos no fórum [SPIEF 2015]. Quando as sanções estavam sendo introduzidas, ambas as partes sofriam, como se umas nuvens pretas cobriram o céu todo. Buscando o caminho que ligaria [os seus integrantes], o negócio salva a economia".
Profundezas
O fundo do mar é um assunto que está em voga nas negociações modernas sobre o gás. Nesta sexta-feira, foi assinado um memorando também entre a Rússia e a Grécia, que prevê a construção de um trecho do gasoduto Turkish Stream (Corrente Turca) — no fundo do mar Negro.
Atualmente, o projeto do Turkish Stream está sendo realizado apesar da pressão, ainda moderada mas persistente, por parte de vários países da União Europeia.