O anúncio da cooperação foi feito no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, realizado na semana passada. Os projetos das duas gigantes da energia estão consignados num plano estratégico de investimentos assinado pelo presidente da PDVSA, Eulogio del Pino, e o diretor-geral da Rosneft, Igor Sechin.
O plano binacional prevê operações de infraestrutura de gás natural no Nordeste da Venezuela, em áreas da Península de Paria, Mejillones, Patao e Rio Caribe, e também na Faixa Petrolífera do Orinoco.
Segundo o jornalista brasileiro especializado em economia Mário Russo, “o empreendimento vai abranger uma área muito rica de produção de hidrocarbonetos na Venezuela, e não será apenas uma joint venture para prospecção de petróleo e gás. Está previsto que ofereça serviços de consultoria na área petrolífera de engenharia, para diversas empresas do setor.”
Mário Russo destaca que, “independentemente da constituição dessa empresa, há outro acordo para desenvolver estudos de melhoramentos de produção na Faixa do Orinoco, no Caribe, um dos maiores reservatórios de óleo pesado e superpesado do mundo. Esse produto não tem o mesmo valor do petróleo fino, usado na gasolina, mas é muito importante em termos de abastecimento industrial”.
“Em 2014”, conta o jornalista, “a Rosneft, com quase 160 mil funcionários e um faturamento de US$ 46 bilhões, aparecia na 10.ª posição do ranking global da conceituada revista Forbes. E, embora a PDVSA tenha quase a metade do contingente da empresa russa, 88 mil funcionários, ela teve no ano passado um faturamento de US$ 88 bilhões. Somados os faturamentos das duas empresas, vemos o porte e a importância geopolítica desse acordo. A Rosneft vem tentando, nos últimos anos, uma ofensiva comercial maior, não só na Europa e na Ásia, como também e principalmente na América Latina. É bom lembrar que ela está envolvida, nestes últimos dois anos, em negociações com o Governo de Cuba para prospecção de novos campos no Caribe, dentro do mar territorial cubano. No Brasil, a Rosneft aumentou sua participação no capital da Petrorio, na Bacia do Rio Solimões, na região amazônica. É um projeto bastante ambicioso – um investimento estimado em US$ 9,2 bilhões –, mas o que era inicialmente petróleo e gás ficou restrito ao gás, porque não foram encontradas reservas de petróleo que justificassem a continuação do projeto. Desse total, US$ 1,4 bilhão está destinado à construção de gasodutos, o que é um desafio técnico não só para a Petrorio, que é uma empresa de médio porte, como para a própria Rosneft, porque a construção de gasoduto na Bacia do Solimões é muito complicada, por razões climáticas, com períodos de chuvas intensas, e também pela característica da formação rochosa, de rocha basáltica, que exige equipamentos especiais por conta da dificuldade de perfuração.”
Ao finalizar, o jornalista Mário Russo comentou que o acordo entre a Rosneft e a PDVSA “vem num momento importante, no cenário das grandes petroleiras, embora o panorama global do petróleo continue desanimador, com a sobreoferta da Arábia Saudita pressionando os preços para baixo e o avanço da extração do gás de xisto nos EUA, além dos interesses geopolíticos. O mercado, às vezes, não se regula apenas por interesses comerciais”.