Opinião: Sem alternativa, a Grécia vai sair da Zona do Euro

© REUTERS / Yannis BehrakisGrécia tem até esta terça-feira (30) para pagar parcela da dívida a credores internacionais
Grécia tem até esta terça-feira (30) para pagar parcela da dívida a credores internacionais - Sputnik Brasil
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A Grécia tem prazo até terça-feira, 30, para dizer se atenderá às exigências da Troyka, os seus três principais credores – Fundo Monetário Internacional, Banco Europeu e União Europeia. O jornalista especializado Mário Russo analisa com exclusividade para a Sputnik Brasil a situação grega, e conclui: “A Grécia vai sair da Zona do Euro.”

Atenas e as outras cidades gregas iniciaram a semana com suas agências bancárias fechadas – elas só atendiam, nesta segunda-feira, os aposentados e pensionistas – e com o movimento financeiro no país totalmente parado, o que provocou inúmeros reflexos nos mercados do Oriente e da Europa.

No domingo, 5 de julho, a população da Grécia vai às urnas para dizer, em referendo, se apoia (ou não) as condições da Troyka com vistas à concessão de novos créditos.

O jornalista Mário Russo entende que a Grécia chegou ao seu limite e que mais nenhum sacrifício pode ser imposto à população grega. Em entrevista à Sputnik News, Mário Russo declara que não resta outra saída ao Primeiro-Ministro Alexis Tsipras senão confirmar o que a comunidade internacional já considera líquido e certo: a Grécia não tem mais condições de permanecer na Zona do Euro. 

Sputnik: Você acredita na possibilidade de saída da Grécia da Zona do Euro?

Mário Russo: Eu acredito, porque a situação chegou a um ponto realmente insustentável. A Grécia é um país de apenas 11 milhões de habitantes e que está sendo praticamente massacrado desde 2009. Agora temos o governo de esquerda de Alexis Tsipras, que assumiu depois das últimas eleições com a promessa de tentar uma negociação sem novas concessões aos grandes credores – aí incluídos o FMI e o Banco Central Europeu – que possam agravar ainda mais a situação da população grega, que está passando um aperto memorável.

S: Qual é o tamanho desse aperto?

MR: Para se ter uma noção de como a situação da economia grega está num beco sem saída, é só lembrar que os juros de dez anos, que o Governo emite, são os maiores desde 2012, e estão na casa dos 14%. O PIB grego, que era bastante expressivo para o tamanho da economia, caiu 25% nos últimos sete anos. Só em 2011 houve uma retração de 9%. No caso da inflação é até pior, porque ela está negativa, na casa dos —2,1%. Com uma economia paralisada, com um governo com as contas estranguladas e refém das exigências cada vez maiores dos credores, temos o pior dos cenários, que é o que os economistas chamam de estagflação, ou seja, deflação com estagnação da economia.

S: E há também a questão do desemprego…

MR: O desemprego, que é outro indicador importante, está em 26% da população, um dos maiores da Europa e de toda a Zona do Euro. E entre os jovens na faixa de 18-24 anos esse percentual é de 52%, ou seja, um em cada dois jovens gregos está desempregado e sem perspectiva de arrumar emprego no futuro. Por isso, quando me perguntam se a Grécia deve sair da Zona do Euro, eu acho que já devia ter saído, e tenho esta opinião desde o começo da crise de 2009 para 2010, a reboque daquele quebra-quebra do subprime de 2008. Há um erro de concepção grave na formação do bloco da Zona do Euro porque estão misturando alhos com bugalhos, água com azeite. A parte dos membros da Zona do Euro no sul da Europa, ou seja, a parte mediterrânea, tem dificuldade não só pelo porte de suas economias – Portugal, Espanha, Itália, Grécia, em comparação aos sócios mais ricos… Colocar normas de administração, normas de endividamento, de déficit orçamentário, superávit primário para economias tão díspares, tão divergentes, com diferenças de portes tão significativas, só podia dar no que está dando. A Grécia permanece na Zona do Euro? Em que condições? O que temos visto é que o Governo grego vem fazendo vários pacotes de ajustes, desde o primeiro, em 2010, ainda com o outro Governo, que também era socialista mas não tão comprometido com as bandeiras de esquerda e fazendo o que os credores querem, ou seja, redução nas despesas, aperto nos aposentados – e como é que se sai dessa encrenca? Desde 2010 a Grécia vem tomando dos credores internacionais mais recursos, a liberação do que eles chamam de mais parcelas de ajuda, que só vai aumentando a dívida e não tem como pagar. Praticamente a cada três meses a Grécia avisa que não tem como pagar, tenta renegociar uma redução da dívida mas os credores não deixam, principalmente os mais ligados ao Governo alemão. Na semana passada a Chanceler Angela Merkel aconselhou o Governo grego a aceitar esse novo pacote de reestruturação, que, segunda ela, estava sendo feito em bases “bastante generosas”. Generosas para quem? Houve uma pesquisa, publicada no último domingo, com mil gregos de diversas partes do país, sobre a situação atual, e surpreendentemente 57% dos participantes são favoráveis a um novo acordo, enquanto só 29% querem a ruptura com os credores. É uma amostragem do que pensa a população.


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