O voto brasileiro surpreendeu, por ter significado uma mudança na posição da diplomacia do país, que em março deste ano se absteve em relação a uma resolução da ONU sobre o mesmo assunto, para condenar Assad. O Professor Jonuel Gonçalves comentou o episódio para a Sputnik: "Tenho a impressão de que o Brasil está mudando sua política exterior. A aproximação com Washington está tendo efeitos muito imediatos'.
A resolução aprovada ontem – 29 votos favoráveis, 12 contra e 6 abstenções –, segundo seu texto, 'condenou energicamente as violações generalizadas e sistemáticas de direitos humanos cometidas pelas autoridades sírias e milícias pró-governamentais".
Apesar do voto favorável, a diplomata Regina Dunlop, embaixadora do Brasil na Organização das Nações Unidas, ressaltou que o texto final da resolução não atende a alguns dos seus propósitos, já que não alerta para a violência cometida pelos grupos de oposição na Síria. "Não podemos passar a impressão de que existem atrocidades piores do que outras", disse ela.
Contra a resolução, apresentada, entre outros países ocidentais, pelo Reino Unido, votaram Rússia, China, Venezuela, Cuba e mais 8 nações. 'Os autores da proposta estão com posições políticas", disse o representante russo. "Comparar Assad com o Estado Islâmico é hipocrisia, porque Assad está lutando contra o Estado Islâmico, que é a maior ameaça para a humanidade agora".
Alguns analistas internacionais observam que a mudança de sinalização no voto do Brasil com relação à questão da Síria coincide com a conclusão da visita da Presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos. Teria a diplomacia brasileira alterado seu ponto de vista sob influência das conversações com Barack Obama em Washington?
O Professor Jonuel Gonçalves, especialista em políticas do Oriente Médio, comenta: "Se há influência direta dos Estados Unidos, não podemos dizer, mas que essa aproximação com os EUA leva a outras mudanças de posição do Brasil, é muito provável. É claro que precisamos de mais tempo e de mais indicadores para fazer essa afirmação de forma segura. mas já na reunião da Cúpula das Américas, no Panamá, o Brasil teve uma posição muito moderada em relação aos EUA, não participou das críticas que foram lançadas pelo Equador e pela Argentina. Depois, foi a forma como se passou a visita da Presidenta Dilma Rousseff a Washington, também com uma grande troca de amabilidades em relação a Barack Obama, que logicamente aproveitou. E agora o Brasil se aproxima da posição ocidental no sentido de considerar que o Governo sírio e as milícias que dependem dele são os principais responsáveis pelas violações de direitos humanos na Síria".
Sobre o teor da resolução que teve o apoio do Brasil, o Professor Jonuel Gonçalves diz que "é lógico que sabemos agora que diversas milícias de oposição também fazem violações brutais dos direitos humanos. Digamos que a observação russa tem sentido nessa matéria. Os russos dizem que também deveria haver uma condenação do próprio Estado Islâmico. Os ocidentais argumentam que o EI está mesmo combatendo no norte da Síria e no Iraque. Fica uma situação diplomática que não está muito esclarecida. A abstenção do Brasil em março parecia um contrassenso. Um país democrático não pode se abster quando as violações de direitos humanos vão ao nível sangrento em que estava na Síria".