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Dilma: Entrevista exclusiva, em Ufá, à TV RT

© Roberto Stuckert Filho/PR / Acessar o banco de imagensPresidenta Dilma Rousseff durante VII Cúpula do BRICS. (Ufa - Rússia, 09/07/2015)
Presidenta Dilma Rousseff durante VII Cúpula do BRICS. (Ufa - Rússia, 09/07/2015) - Sputnik Brasil
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Presidenta Dilma Rousseff, no âmbito da VII Cúpula dos BRICS, na Rússia, concedeu entrevista exclusiva ao canal de TV russo RT, que transcrevemos na íntegra abaixo:

Presidenta Dilma Rousseff durante VII Cúpula do BRICS. (Ufa - Rússia, 09/07/2015) - Sputnik Brasil
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RT: Durante a Cúpula foram tomadas decisões importantes, sobretudo sobre a formação do Banco dos BRICS. Qual a sua avaliação das reuniões? 

Dilma Rousseff: Eu acredito que esta reunião, a VII Cúpula dos BRICS, sediada na Rússia, teve um resultado excepcional. Foi um marco nas nossas relações. Сoncretizamos a formação do Banco do BRICS, nomeamos toda sua estrutura de governança, inclusive já indicamos o presidente e os vice-presidentes do banco. Além disso, fizemos um acordo contingente de reservas, que é uma espécie de amortecedor para as crises financeiras, pelo fato dos mercados oscilarem muito. E esse acordo de reservas contingentes foi assinado pelos nossos bancos centrais. Então eu acredito que a cúpula foi um grande sucesso, além de ter sido muito bem organizada. 

RT: Qual a sua posição sobre Grécia? O BRICS poderá ajudar a Grécia?

Dilma: Eu espero que a União Europeia resolva o problema da Grécia e acredito que esse processo de negociação esteja em aberto. No que se refere aos BRICS, tanto o Banco, quanto o acordo contingente de reservas não funciona contra nenhum órgão internacional multilateral. O que nos fazemos é dar suporte às nossas economias para enfrentar conjunturas adversas, como a alta volatilidade financeira. Isso é no caso do acordo contingente de reservas. Já no caso do Banco do BRICS, é importante saber que há uma carência imensa de fundos para investimento de longo prazo. O que o banco fará é ocupar esse lugar e, com isso, aumentar os recursos disponíveis para investimento. No primeiro momento, para os membros do BRICS. Num segundo momento, para os países que vierem porventura a demandar. Então eu acredito que primeiro é preciso olhar se a Grécia resolve o problema dela dentro da União Europeia, antes de se discutir qualquer outra coisa. Nem cabe agora esta discussão.

RT: México, Coreia do Sul, Argentina e até Venezuela já demonstraram interesse em participar do novo banco. Isso foi discutido durante a Cúpula?

Dilma: Os cinco países integrantes do Banco do BRICS (China, Índia, Rússia, África do Sul e Brasil) são a favor de ampliar a participação de outros países no banco do BRICS, mas isso não foi discutido ainda. Isso só poderá ser discutido, pelas regras do banco, de forma consensual. Acredito que no futuro será. 

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RT: Cada país tem seus projetos prioritários para executar no âmbito dos investimentos da nova instituição. A ferrovia que liga Brasil e Chile seria o projeto principal do Brasil?

Dilma: Esse projeto, a ferrovia bioceânica, que liga o Atlântico ao Pacífico, na verdade está concebido para sair do Brasil e chegar ao Pacífico pelo Peru. Seria um porto no Peru. Está em estudo ainda. Esse seria um dos grandes projetos que nos pretendemos que seja viabilizado com esse fundo, ou até com outros fundos. Os projetos viabilizados terão mais ou menos esse perfil. Serão grandes projetos estruturantes para países e suas regiões. No caso da ferrovia bioceânica, ela beneficia tanto a China, quanto o Brasil, e obviamente o Peru. 

RT: A Rússia tem sofrido sanções em função da crise na Ucrânia. Brasil sofre algum tipo de pressões por se relacionar com a Rússia?

Dilma: Não. Nunca recebemos nenhuma pressão. Nós no Brasil somos contra qualquer política baseada em sanções. Temos uma experiência muito negativa na América Latina, que foram as sanções contra Cuba, que agora estão sendo levantadas. Não acreditamos que as sanções sejam solução em qualquer hipótese. Pelo contrário, as sanções, geralmente, ao invés de punir os governos, punem a população. E isso é inconcebível. Então temos um claro posicionamento em todos fóruns internacionais contra esse tipo de sanção. 

RT: A Rússia está ciente desse posicionamento? Essa posição foi anunciada na Cúpula do BRICS?

Dilma: Sim, não só no BRICS, como falamos isso na ONU. Não somos a favor de sanção. Não só somos contra, como não praticamos. Tanto é assim, que vou citar um caso local nosso. Cuba estava sob sanção há mais de 50 anos. Nós nunca respeitamos esse tipo de sanção. Investimos em Cuba. Fizemos e financiamos o grande porto de Mariel em Cuba. É um porto em águas profundas. O que quero dizer é que não somos contra sanção só verbalmente. Nos tomamos atitudes que demostram o que achamos. 

RT: A Rússia e Brasil tem vivido dificuldades econômicas. É uma situação bem diferente do momento no qual o BRICS foi criado. A situação em seu país pode prejudicar o aporte ao fundo do bloco?

Dilma: Não. Porque a situação do Brasil, e acredito que da Rússia também, e mesmo a da China, que tem a sua menor taxa de crescimento nos últimos 25 anos, é passageira. Estamos vivendo agora os efeitos da crise internacional. Conseguimos passar o pior momento. Pelo menos o Brasil conseguiu. Estamos há seis anos impedindo que a crise afete o emprego e a renda do povo brasileiro. Mas tem um limite para a gente suportar isso. Todavia, a economia brasileira possui fundamentos sólidos. Nos recuperaremos rápido. Por isso eu acredito que os nossos aportes aos BRICS não serão afetados. 

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RT: O Brasil sediou a Copa do Mundo no ano passado e receberá as Olimpíadas no ano que vem. As obras de infraestrutura para os eventos foram afetadas pela crise?

Dilma: Não. Inclusive, todas estão completamente em dia. Não há menor hipótese de serem afetadas por isso. O Brasil tem uma das menores dívidas, se comparado com qualquer país. Qualquer país da Europa tem uma dívida em relação ao PIB maior que a do Brasil. A do Brasil está na faixa dos 60 por cento. As dívidas dos países europeus em relação o PIB estão na faixa de 100 por cento. O Brasil tem uma taxa de inflação alta para os padrões europeus, mas ela é alta momentaneamente. Da mesma forma, nos tomamos agora uma medida de proteção ao emprego, parecida com aquela tomada por Alemanha, durante o período de crise. Acreditamos que será bastante eficaz no sentido de segurar a taxa de desemprego no Brasil. Então eu diria o seguinte, queremos sair rápido da crise. E vamos conseguir.

RT: As últimas eleições presidenciais foram muito difíceis e os índices de popularidade da presidência também estão baixas. Isso torna a governabilidade mais difícil?

Dilma: Dilma Rousseff vai concluir essa legislatura. Em qualquer país há quedas de popularidade. A minha decorre de uma situação econômica bastante adversa. Eu tenho certeza de que isso vai melhorar. O que importa é, sem sombra de dúvida, que nos estamos trabalhando duro para tirar o Brasil dessa situação de crise. E isso é o nosso foco principal. 

RT: Tentativas de golpes brancos tem sido articulados na América Latina, com participação da direita e com apoio dos Estados Unidos. O mesmo está ocorrendo no Brasil?

Dilma: Não, não acho. Acho esta uma teoria conspiratória. Em nenhum país é preciso influência de fora para que algum segmento seja um tanto quanto golpista. Eles são golpistas por si mesmos. Não tem país nenhum no mundo interferindo na situação interna do Brasil. 

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RT: A senhora, além de ser uma espécie de ídolo pelo seu passado, conseguiu colocar o Brasil entre as 7 maiores economias do mundo. O que resta fazer? 

Dilma: Muito. Em nenhum país você consegue cumprir tudo aquilo que você tem de fazer. Todo dia você tem de lutar para fazer mais. Agora, nesse momento adverso, temos de trabalhar ainda mais para conseguir que o país saia da crise, para que tenhamos condições de garantir tudo que já conseguimos. Porque tiramos 50 milhões de brasileiros da pobreza e os elevamos para a classe média. Somos a sétima economia do mundo. Temos hoje 378 bilhões de dólares de reservas. Somos um país sólido do ponto de vista macroeconômico. Não temos bolha. O nosso sistema bancário é absolutamente robusto. Não há motivos para o Brasil não voltar a crescer.

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