Em entrevista à Sputnik, o especialista explicou que, por conta da chamada "Posição Comum" dos países europeus em relação a Cuba, Bruxelas levou muito tempo para tentar normalizar as relações com Havana, sendo facilmente ultrapassada por Washington, que hoje reabriu a sua embaixada na ilha caribenha.
"A União Europeia foi muita lenta mais uma vez, porque criou uma "Posição Comum" sobre Cuba, seguindo os EUA, e agora, enquanto Washington e Havana reabrem suas embaixadas, Bruxelas ainda está discutindo se essa "Posição Comum" deve ser abandonada", declarou.
De acordo com o jornalista, o seu país em particular, a Espanha, contribuiu muito para o distanciamento entre a Europa e Cuba desde o final dos anos 1990 até meados da primeira década deste século, durante o governo de José María Aznar. Uma pequena mudança na posição espanhola só foi verificada durante o governo de José Luis Rodríguez Zapatero. Mas, ainda assim, segundo ele, nem a Espanha nem a Europa têm hoje algo realmente interessante a oferecer a Havana.
"Hoje, Cuba tem um espectro de relações diplomáticas mais amplo do que nunca, e a Europa não representa um interesse político nem econômico ou geoestratégico", afirma o analista, citando o caso do chanceler espanhol José Manuel García-Margallo, que, em visita à ilha no ano passado, foi "humilhado" ao não ser recebido pelo presidente cubano, Raúl Castro.
Já no caso da aproximação entre Havana e Washington, Medem acredita que, com essa mudança na postura norte-americana, os Estados Unidos inauguram na verdade "uma nova política contra a América Latina". Para ele, o restabelecimento dos laços com Cuba significa para a Casa Branca uma manutenção dos seus objetivos no continente, que são "recuperar a influência e a capacidade de controle" na região, cada vez mais próxima dos russos e dos chineses. Mas, agora, isso se dará através de outros procedimentos.
Segundo Medem, com a reabertura de sua embaixada no país, depois de 54 anos de hostilidades, os Estados Unidos substituem décadas de "agressões econômicas, políticas, diplomáticas, militares e terroristas" por "pressões principalmente econômicas e culturais", que têm como objetivo "a evaporação simultânea do bloqueio e do projeto cubano de socialismo".
O estranho, no entanto, de acordo com o jornalista, é que ao mesmo tempo em que tenta retomar a sua relação com Cuba, Washington intensifica a sua oposição à Venezuela, grande aliada cubana, produzindo uma "terrível escalada de assédio" contra Caracas a poucos meses das eleições parlamentares venezuelanas, marcadas para dezembro.
"Não tem muita lógica que os EUA suavizem seus laços com Cuba e que, simultaneamente, sendo a Venezuela a principal aliada de Cuba, Washington empregue com o governo de Caracas uma política distinta e de assédio". Essa estratégia é "muito ruim", afirma.
Seja como for, Medem destaca que Cuba faz uma distinção clara entre o "restabelecimento das relações diplomáticas" com os EUA, confirmadas pela reabertura das embaixadas, e o "processo de normalização", que será "longo e complexo", devendo incluir, segundo o próprio presidente cubano, "a eliminação do bloqueio", "a devolução de Guantánamo" e a eliminação dos "programas ilegais para financiar a subversão dentro da ilha", entre outras coisas.
"Cuba inclusive pede uma indenização pelos 50 anos de bloqueio", acrescenta o especialista.