O Brasil tem o comando dos 15 países da Minustah. As forças de paz contam com 850 militares brasileiros das três Forças Armadas. Ao todo, contando o Batalhão de Engenharia, hospital e apoio, são 2.370 homens.
O tema dos encontros da visita do ministro foi a retirada gradual das tropas – que já vem ocorrendo desde 2012, acompanhando a evolução da situação interna do país e de acordo com resolução da Organização das Nações Unidas (ONU).
Jaques Wagner percorreu as áreas de operações da Missão e os projetos setoriais de impacto social, junto dos comandantes da Marinha, Almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, do Exército, general Eduardo Dias Villas Bôas, e da Aeronáutica, Brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato.
"Desenvolvemos um amplo programa de cooperação bilateral e triangular para ajudar a criar condições efetivas de recuperação social, econômica e da infraestrutura do país", afirmou o ministro diante das tropas.
Entre os projetos realizados, Wagner apontou os de reconstrução de estradas, desenvolvimento agrícola, distribuição de merenda escolar, combate à violência contra mulheres, treinamento de bombeiros e policiais, programa de imunização, educação de crianças e jovens.
Sobre a Minustah e a visita do Ministro da Defesa ao Haiti, o especialista Nélson Francisco Düring falou com exclusividade à Sputnik Brasil. Engenheiro e jornalista, Düring é editor da revista DefesaNet.
Sputnik: O Brasil está saindo do Haiti?
Nélson Francisco Düring: Sim, já estamos num processo de redução das forças. Com o terremoto em 2010, nossas forças pularam de cerca de 1.000, 1.200 homens, para quase 2 mil homens para atender aquela emergência. E agora estamos aos poucos reduzindo nossa presença, voltando ao padrão normal, e também reduzindo algumas forças, como o caso da Força Aérea Brasileira, que não estará mais enviando pessoal da Infantaria da Aeronáutica para participar da Minustah.
S: O senhor considera que nesses 11 anos de permanência as tropas brasileiras cumpriram a sua missão de paz no Haiti?
NFD: Há uma questão muito curiosa: nós podemos sempre olhar as ações da ONU como uma espécie de intervenção militar, porque um país está com problema e vêm forças estrangeiras assumir a função de garantia da lei e da ordem, ou até imposições de ações militares mais duras no país. O Brasil substituiu os fuzileiros navais americanos no Haiti. O diferencial nesta missão foi que o Brasil conseguiu dar um toque mais amigável dentro dessa operação. Os pontos referenciais do Brasil – futebol, Pelé, samba – se tornaram um fator de aproximação, de integração com a comunidade. Há fotos clássicas de soldados jogando futebol com crianças e com cidadãos nas ruas do Haiti. Houve toda uma interação levada pelo povo brasileiro, através dos soldados, com os haitianos. Isso estabeleceu até um certo padrão de operação para muitas missões da ONU. Não foi sem muita discussão porque, por exemplo, jornais americanos de prestígio, no início, claramente diziam que os brasileiros eram muito moles e deveriam ser tirados do comando da operação, ou seja, a lei da bala, você chega no estilo mariner, você manda bala e estabiliza a situação. O Brasil começou a ter a postura que o levou a ter prestígio dentro da ONU, e hoje nós temos o General Santos Cruz, que coordena a primeira operação militar da ONU de ataque, ou seja, um exército da ONU montado para operações militares clássicas, no Congo.
S: O Haiti está pronto para viver sem a presença da Minustah, com a redução das tropas do Brasil e da ONU do seu território?
NFD: Não. Nós falamos numa redução. O Brasil está reduzindo sua tropa, alguns países já não estão enviando mais tropas. Terá que ter um apoio especialmente para a polícia haitiana. Eu creio que o Brasil ainda permanecerá no mínimo 5 anos dentro do Haiti, com tropas bem menores. Já tivemos uma redução drástica, e voltamos ao patamar original, mas vamos continuar a reduzir.