Professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ele se define como um socialista libertário e é responsável por uma extensa contribuição ao debate sobre as tendências globais da mídia. Na entrevista a seguir, ele recupera grande parte dos argumentos que vem defendendo nos últimos anos, expressos em uma entrevista à Canadian Broadcasting Corporation em 1995.
Sputnik: a midiatização é um fenômeno antigo, mas lento. Ela basicamente define o papel da mídia na criação de agendas e, depois, permite que o establishment político a siga. Ela também intervém no processo de tomada de decisão da sociedade civil e dos políticos. Como esse processo de midiatização vai influenciar a política e a sociedade nos próximos dias/anos?
Noam Chomsky: Depende de como pessoas como eu e você reagirem — uma questão para a ação, não para a especulação. Bem, você não pode caracterizar isso em uma frase. É complicado. Mas, para uma espécie de primeira aproximação, a mídia se comporta exatamente como você esperaria que as instituições desse caráter se comportassem. Tome, digamos, a mídia comercial. Trata-se de grandes conglomerados, grandes corporações, muito rentáveis, partes de conglomerados ainda maiores e, como você diz, passando agora para estágios de megafusão.
Eles [a mídia comercial, os grandes conglomerados] têm um produto, a saber, um público. Eles o vendem para um mercado, a saber, os anunciantes.
A grande mídia – como o New York Times e o Washington Post, aqueles que meio que definem a agenda para os outros – ela é direcionada para setores privilegiados da população, setores de tomada de decisão, setores administrativos, gestores culturais, e assim por diante. Então, trata-se de enormes negócios rentáveis vendendo públicos privilegiados para outras empresas. Bem, que tipo de imagem de mundo uma pessoa sã esperaria surgir dessa interação? Não é difícil descobrir.
S: Estamos vivendo em um mundo cada vez mais conectado e em um mundo transparente? A mídia – especialmente os meios noticiosos – está vivendo sob imensa pressão para colocar a informação primeiro entre os seus consumidores de notícias. Este e vários outros fatores levaram a uma guerra de informação. Você poderia, por favor, elaborar este tema um pouco mais com algum exemplo atual?
S: Que tipo de medo as celebridades midiáticas enfrentam em termos de seu sucesso e sustentabilidade como estrelas ou ícones entre seu público-alvo ou em um ambiente midiatizado? E, em sua opinião, o que é mais importante para o sucesso de uma entidade midiática: um ideal jornalístico de status de celebridade ou as notícias?
NC: Não preste muita atenção a estrelas e ícones. E existem, a essa altura, milhares de páginas de documentação bastante sólida que mostrando que o que você espera, você recebe. Não surpreende. Em premissas de mercado livre mais ou menos mínimas, isto é basicamente o que você esperaria. O interesse do trabalho é mostrar que a expectativa não só é verificada, mas é esmagadoramente verificada. Por outro lado, existem fatores conflitantes, então se você olhar mais de perto, você descobrirá que há muitos jornalistas que têm plena integridade profissional e honestidade e querem chegar à verdade. Alguns deles, aliás – alguns dos mais conhecidos deles – são ainda mais cínicos a respeito da mídia do que eu, mas encontram formas de trabalhar entre eles [e] e muitas vezes se comprazem com coisas bastante importantes.
S: Em que direção a guerra midiática está levando? Será que ela vai dar um impulso à mídia de notícias em termos de bom conteúdo ou vai piorar em termos de valor de notícia?
NC: Mais uma vez, depende de pessoas como nós. Depende de como ela é usada.
A tecnologia é geralmente bastante neutra. Ela não se importa se você a usa para coagir ou para libertar e liberar as pessoas. E toda a tecnologia de comunicações, da imprensa ao rádio, à televisão e à Internet, tem potencial coercitivo e tem potencial libertador. Depende de quem está no comando.
Se for democraticamente gerida e controlada, ela pode refletir os interesses públicos e servir aos interesses públicos. Se for privatizada, colocada sob o controle de tiranias privadas – ou de Estados totalitários e assim por diante – que não apenas ignoram a vontade pública, mas também não incentivam – de fato, desencorajam – a participação pública, bem, então, vai ser algo completamente diferente. Depende de qual caminho ela toma. Neste momento, há uma batalha pela Internet. E também pelos múltiplos canais [de televisão].