Renato Baumann é professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, e pesquisador do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. O IPEA é o representante oficial brasileiro no Conselho de think tanks do BRICS.
A seguir, a entrevista com o economista e professor.
Sputnik: Como o senhor vê o início de funcionamento do Novo Banco de Desenvolvimento e que importância atribui a esta instituição do BRICS?
S: No caso do Brasil, a aprovação se deu de uma forma muito rápida. A Câmara aprovou numa semana e o Senado na semana seguinte.
RB: Exatamente. O comentário que se faz aqui é que isso talvez em parte se explique porque a presidência pro tempore da Rússia, este ano, inovou ao promover uma reunião dos Parlamentos dos BRICS, e os parlamentares brasileiros foram a Moscou e pouco antes desta missão aprovaram o Banco, fizeram o dever de casa.
S: O senhor também participou de uma dessas reuniões preparatórias para a 7.ª Conferência de Cúpula do BRICS, em Moscou.
S: Este documento menciona as atribuições do NBD – Novo Banco de Desenvolvimento?
RB: Ele menciona a criação porque as atribuições propriamente ditas estão sendo definidas neste momento em reuniões dos vice-presidentes com as equipes dos Ministérios da Fazenda e Bancos Centrais dos 5 países. Têm aparecido na imprensa pelos menos duas coisas: uma é que dos primeiros anos, pelo menos, apenas projetos nos 5 países serão financiados com recursos deste Banco; a segunda é que os projetos a serem financiados serão essencialmente de infraestrutura, que é a razão básica de se criar um banco de desenvolvimento adicional. O argumento fundamental é de que há um excesso de demanda, que se estima que supere um trilhão de dólares, e não há recursos disponíveis nem no Banco Mundial nem nos bancos de desenvolvimento existentes. Então, nesse sentido, é bem-vinda a criação de mais uma fonte de recursos. E não nos esqueçamos de que pouco tempo depois a China criou o Banco para Investimento em Infraestrutura na Ásia. Até por coerência, faz sentido esperar que esses recursos sejam destinados, pelo menos nos anos iniciais, a projetos de infraestrutura.
S: O senhor mencionou a participação dos ministros da Fazenda e presidentes dos Bancos Centrais de cada um dos países BRICS na composição do Novo Banco de Desenvolvimento, e competem a cada um desses profissionais das finanças os cargos de governador e vice-governador do NBD. É como se fossem membros do conselho do Banco?
S: Ontem foi a inauguração da sede física do Banco.
RB: Isso. Em Xangai.
S: A operacionalidade do Banco se dará em janeiro de 2016?
RB: Em algum momento entre agora e o início de 2016. Acho que ninguém tem certeza porque haverá a tramitação ainda em dois Parlamentos, e toda a definição da parte operacional, de como será o dia a dia do banco.
S: Qual a importância deste Banco, além do fato de ser o primeiro organismo multilateral desde a criação da Conferência de Bretton Woods?
S: O Novo Banco de Desenvolvimento deve ter uma atuação e um perfil estritamente técnicos? Deve manter-se apartado de qualquer influência política? Sua atuação deve ser estritamente no âmbito técnico?
RB: Pelo menos predominantemente técnico, de tal forma que sejam bem-vistos pelas agências de risco.