A atual classificação ainda mantém o grau de investimento, mas, para o Governo, esta nota foi interpretada como um sinal de alerta. Renato Baumann, pesquisador do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, falou com exclusividade para a Sputnik Brasil.
Sputnik: Como o senhor avalia a nota da Standard & Poor's para o Brasil? E, de fato, o país corre risco com esta avaliação BBB-?
Renato Baumann: Vários analistas já esperavam que houvesse uma redução da nota atribuída à economia brasileira, em função de uma série de acontecimentos recentes, como os indicadores de desempenho, os indicadores da taxa de inflação e a turbulência política. O fato de ter havido o rebaixamento de um grau, um nível, é uma grande surpresa para boa parte dos analistas. Duas observações importantes: esse rebaixamento não significou que o Brasil perdesse a sua condição de grau de investimento, o que é uma ótima notícia. A segunda consideração é que esse rebaixamento vem associado a um sinal “-” (menos), que é indicação de que numa próxima avaliação, com as informações disponíveis hoje, a agência tenderá a rebaixar ainda mais. Como a economia brasileira está no limite inferior da condição de grau de investimento, um rebaixamento adicional implicaria a perda desse grau, e isso sim é um problema. Pelo menos duas agências têm que classificar determinada economia como grau de investimento para que ela seja considerada como tal, e isso faz toda a diferença porque os principais investidores do planeta, que são os fundos de pensão, têm por norma apenas investir nas empresas e nas economias que são “grau de investimento”, porque precisam assegurar o retorno dos ativos investidos e prestar contas aos acionistas. Perder grau de investimento significa, na prática, primeiro perder essa atratividade com relação a grandes investidores. Segundo, implica elevar o custo de captação de recursos. O país quando quiser colocar título da dívida soberana no exterior e, além disso, as empresas brasileiras ao captarem recursos no exterior terão que pagar um preço mais alto porque também as empresas ficam afetadas por essa condição.
S: Dentro deste aspecto, a General Motors, por exemplo, anunciou na terça-feira investimentos adicionais de 6,5 bilhões de reais no Brasil, para os próximos 4 anos, o que elevará a participação da empresa no país a 13 bilhões até 2019. É um sinal de que a General Motors não se impressiona com a avaliação da Standard & Poor's?
RB: As agências de risco fazem a sua classificação a partir de dois critérios: de liquidez e de solvência. Basicamente, o que elas olham é a capacidade de a economia – nesse caso, pois elas também fazem o rating para empresas – poder pagar, sem maiores problemas, os seus compromissos externos. É isso que elas medem, e isso não mede muito o potencial econômico da economia. Isso fez com que a economia brasileira, durante muitos anos, quando não era “grau de investimento”, ficasse em situação inferior a outras economias de menor dimensão e menor potencial econômico. A decisão de uma empresa como a General Motors tem mais a ver com a perspectiva da economia em médio e longo prazos e particularmente com as dimensões do mercado interno, que é um mercado não desprezível – falamos de algumas dezenas de milhões de consumidores. As duas coisas não estão necessariamente relacionadas. A questão do rating, da classificação das agências de risco, tem mais a ver com fluxo de recursos – quase que mais fluxos financeiros do que propriamente outros. Obviamente, há a exceção dos grandes investidores de fundos de pensão, de eventuais participações em investimentos diretos que possam ocorrer. A grosso modo, o impacto está muito relacionado à movimentação financeira, a fluxo de mais curto prazo.