Depois de oferecer na noite de quarta-feira (19) um jantar de trabalho para Angela Merkel, sua comitiva e autoridades, Dilma, a chanceler alemã e seus respectivos ministros participaram nesta quinta-feira de algumas reuniões no Palácio do Planalto, em Brasília. Nesses encontros, foram assinados ao todo 17 acordos bilaterais, promovendo a cooperação e o diálogo em áreas como inovação aplicada a processos produtivos, pesquisa marinha, terras raras, bioeconomia, educação, saúde e segurança alimentar e nutricional.
Durante discurso para a imprensa após reunião privada com Merkel, a presidenta brasileira defendeu que, no ano em que a ONU, Organização das Nações Unidas, completa 70 anos, é urgente a necessidade de se fazer a reforma em seu Conselho de Segurança.
“Brasil e Alemanha dialogam permanentemente sobre os grandes temas globais. Concordamos que a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas é tarefa inadiável. E, no marco de 70 anos da ONU, defendemos o quanto antes as negociações efetivas para tornar o conselho mais representativo do mundo multipolar onde todos nós vivemos”.
Atualmente, o Conselho de Segurança da ONU é formado por cinco países permanentes, Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido, e por outros dez membros não fixos, que se revezam em mandatos de dois anos.
Segundo Dilma, os países do G4, formado por Brasil, Alemanha, Japão e Índia, seriam parceiros na questão da ampliação do Conselho, e devem se reunir para discutir o assunto antes da Assembleia Geral da ONU, marcada para o dia 28 de Setembro.
Atualmente, a Alemanha é o quarto parceiro comercial do Brasil, atrás de China, Estados Unidos e Argentina. Em 2014, de acordo com o Itamaraty, o comércio entre os países chegou a mais de US$ 20 bilhões.
No pronunciamento desta quinta-feira, Dilma Rousseff destacou também a importância da Alemanha como um dos principais investidores no Brasil, com cerca de 1.600 empresas atuando no país, e reafirmou a vontade do governo brasileiro na conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que visa a ampliar o comércio entre os blocos. A expectativa dos países sul-americanos é a de que a troca de ofertas no contexto dessa parceria seja apresentada até o fim deste ano.
Destacando as oportunidades para ampliar os investimentos alemães no Brasil, principalmente nas áreas de infraestrutura e energia elétrica, com foco nas energias renováveis como biomassa, eólica, solar, Dilma aproveitou para convidar os empresários alemães a participarem das licitações da segunda etapa do Programa de Investimento em Logística, com foco em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.
“Estimulamos também o fortalecimento das parcerias, dos negócios entre nossos empresários, incluindo o fomento a investimentos, a joy ventures entre pequenas e médias empresas. Ressaltei as oportunidades para a ampliação dos investimentos alemães no Brasil, especialmente em infraestrutura e em energia elétrica. Aproveito para reiterar o convite para que empresas alemãs participem dos processos licitatórios envolvendo a segunda etapa do Programa de Investimento em Logística e da etapa agora que abrimos do Programa de Investimento em Energia Elétrica”.
Segundo o serviço de imprensa da presidência, os dois governos também adotaram importantes iniciativas em educação, ciência, tecnologia e inovação, áreas que seriam prioritárias para o aumento da produtividade e economia e para a consolidação das conquistas sociais no Brasil. Entre essas iniciativas estaria o desenvolvimento conjunto do Veículo Lançador de Satélite Brasileiro (VLM1).
Sobre a questão ambiental, Dilma informou que Brasília e Berlim que vão trabalhar em conjunto para enfrentar aquele que é um dos maiores desafios do Século 21, a mudança climática. A presidenta reafirmou o compromisso brasileiro com a descarbonização, para frear o aquecimento global.
"Nós hoje chegamos a uma declaração conjunta importante sobre mudança do clima, que mostra o compromisso de trabalharmos juntos na Cop 21 [Conferência do Clima que vai ocorrer em dezembro, em Paris], e para além da Cop 21, a nossa visão de que o século necessita que tenhamos o compromisso de que, até o final dele, nós tenhamos a descarbonização e não permitamos que haja um aumento de 2 graus na temperatura”.
Entre outros assuntos, a chefe de Estado brasileira finalizou o seu discurso anunciando financiamentos alemães para projetos de energia renovável e mobilidade urbana e sublinhando a conversa que teve com Merkel sobre a evolução da governança na internet, com destaque para a questão da defesa da privacidade no mundo digital.
Já a chanceler alemã disse que tem acompanhado o desenvolvimento muito intenso do Brasil ao longo dos anos, citando como prova dos avanços conquistados durante os últimos governos o fato de o país ter sido retirado pela ONU do mapa mundial da fome em 2014.
Merkel elogiou a posição de liderança do Brasil na questão das negociações do Mercosul com a União Europeia, prometendo trabalhar muito para que a comissão europeia acelere essas negociações.
E, para finalizar, ela lembrou que, em setembro, haverá o encontro econômico Alemanha-Brasil, que deverá ampliar ainda mais a cooperação bilateral, abrangendo também as pequenas e médias empresas.
No ano passado, a chanceler alemã esteve no Brasil para acompanhar o jogo entre Alemanha e Portugal, em Salvador, pela Copa do Mundo. O último encontro entre as chefes de Estado aconteceu em junho deste ano, durante a Cúpula União Europeia – Celac, em Bruxelas, na Bélgica.