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Opinião: Mídia internacional tem visão negativa do Brasil

© AFP 2023 / PASCAL PAVIANIHomem lê um jornal francês tomando o café.
Homem lê um jornal francês tomando o café. - Sputnik Brasil
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Alguns órgãos da mídia internacional têm voltado suas baterias contra a Presidenta Dilma Rousseff e seu governo. É o que pensa o professor de História Francisco Carlos Teixeira da Silva, referindo-se a “The Economist” e ao “Financial Times”.

Em alguns outros órgãos, diz o especialista, também existem críticas (caso do jornal francês “Le Monde”), mas não ao ponto de sugerir mudanças na equipe de governo e até mesmo apontar ministros que devem ser substituídos, no entender dos responsáveis por essas publicações.  

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Francisco Carlos Teixeira da Silva, professor da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e da ECEME – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, analisa o comportamento da imprensa internacional diante do Brasil e do seu governo.

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Opinião: Mídia internacional tem visão negativa do Brasil
Sputnik: O senhor detecta em alguns órgãos da mídia internacional alguma deliberação de desacreditar o governo da Presidenta Dilma Rousseff?

Francisco Carlos Teixeira da Silva: Sem dúvida nenhuma há uma visão negativa no conjunto da imprensa internacional, principalmente nos grandes jornais empresariais ligados ao mundo dos negócios. Este é o caso da revista “The Economist”, que faz uma verdadeira campanha, inclusive se dando ao luxo de dizer quais as políticas econômicas, ou quais os ministros o governo brasileiro deveria ter. Isto de fato vem acontecendo. No começo do ano houve uma campanha muito forte contra o governo que se instalava no Brasil. De duas semanas para cá, isto começou a ter variações. Primeiro um editorial do “New York Times” que dizia que a questão do impeachment da presidente não deveria ser colocada, pois isso poderia ameaçar e danificar muito a economia brasileira. E na semana passada “El País”, que tem vinculações com a indústria petrolífera internacional, claramente dizia que não era o momento de se promover o impeachment no Brasil.

S: Então, há uma articulação na imprensa, de uma maneira geral, para que o governo da Presidenta Dilma Rousseff vá até o fim, que ela conclua seu mandato em 31 de dezembro de 2018?

FCTS: Neste momento, sim. E parece que isto se deve à indicação de que o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, que seria o sucessor legal, assumiria o poder, já que o vice-presidente também seria impedido pela legislação brasileira. E esse deputado, presidente da Câmara, vem se mostrando um político profundamente “aventurista” em relação à gestão da máquina governamental e da economia do Brasil. Ou seja, não há opção, neste momento, a Dilma Rousseff.

S: Podemos dizer que ela está tranquila em relação à conclusão de seu mandato?

FCTS: Eu não diria tranquila, mas diria que a pressão que existiu nos primeiros quatro ou cinco meses praticamente agora se esvaziou.

S: O que o senhor pensa da afirmação do jornal francês “Le Monde” de que a Presidenta Dilma Rousseff estaria isolada?

FCTS: O jornal se mostrou atrasado em informar isso. Seria uma manchete de quatro ou cinco meses atrás. O que se percebe também, lendo a reportagem de “Le Monde”, é que ele só colheu informações de círculos das altas finanças de São Paulo, ou da elite de São Paulo, que já são oposição a governos do Partido dos Trabalhadores há muito tempo. Aquele trabalho mínimo que “Le Monde” deveria ter, de ouvir várias opiniões diferentes, não ocorreu em relação a esta matéria.

S: O senhor entende que houve uma parcialidade?

FCTS: Sem dúvida nenhuma, houve parcialidade, houve falta de oportunidade, de percepção do modelo. Ele dá uma notícia que seria verdade cinco meses atrás, e agora o momento é totalmente diferente.

S: O senhor acredita que a presidente consiga reverter este quadro de dificuldades? Nota-se que ela tem uma certa dificuldade de trânsito com o Congresso Nacional e mesmo com a sociedade brasileira num momento em que se impõem drásticas medidas econômicas perante o país. O senhor acredita que ela reverta este quadro?

FCTS: Nós esperamos que sim. O programa de austeridade econômica colocado em prática sob a regência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não é um programa popular e sem dúvida nenhuma não é um programa que contemple as expectativas do Partido dos Trabalhadores e da maioria da população do país. Este modelo de austeridade já foi praticado na Europa, na Grécia, em Portugal, na Espanha, e duramente criticado. Nós pensamos que há um forte equívoco na prática de uma austeridade desta forma, atingindo setores sociais como educação e cultura. Mas as opções políticas são tão piores, para o caso do Brasil, que muito possivelmente Dilma terá chance de completar seu mandato.

S: Uma vez concluído este mandato, o senhor acredita que a presidente tenha força política para indicar quem venha a sucedê-la, e este indicado ou indicada consiga a eleição nas urnas?

FCTS: Dilma Rousseff não é um ator político autônomo e com força própria. Ela foi eleita pelo prestígio do ex-Presidente Lula da Silva. Tudo dependerá da posição do ex-presidente. Ele é, na verdade, hoje ainda, o grande eleitor brasileiro.

S: Na semana passada Lula já se lançou pré-candidato.

FCTS: Nós não temos certeza e nenhuma garantia de que ele concorra novamente à Presidência. Nós acreditamos que ele faça isso, que lance seu nome apenas para torturar mais um pouco a oposição em seu medo, pânico, perante o ex-Presidente Lula.

S: Ou talvez seja uma estratégia para mudar o foco. Ao invés de a oposição mirar na presidente, passa a se voltar contra o ex-presidente?

FCTS: Sem dúvida. O que é complicado e, de certa forma, um desafio extremamente grave porque a oposição não está medindo meios para atingir as lideranças do PT. A tentativa de envolvê-lo em escândalos de corrupção é muito intensa neste momento, e até agora ele tem passado incólume por este processo.

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