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Opinião: “Ascensão da China mostra que a era das hegemonias chegou ao fim”

ENTREVISTA COM ANTONIO GELIS 2 DE 03-09-15
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A China aproveitou o grande desfile militar de 3 de setembro, comemorativo dos 70 anos de sua vitória sobre o Japão e do fim da Segunda Guerra Mundial, para mostrar ao mundo que, além de sua pujança econômico-financeira, está suficientemente preparada para responder a quaisquer eventuais confrontos internacionais.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o professor de Estratégia Internacional e Geopolítica da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Antônio Gelis, comenta que, “ao expor o seu poderio militar, a China mostra aos parceiros internacionais o quanto está preparada para enfrentar qualquer situação”. O especialista diz que “desta forma a China está pondo fim a uma longa hegemonia, detida por muito tempo por um único protagonista. Com a ascensão da China, a era desta hegemonia está chegando ao fim”. 

Soldados do Exército de Libertação Popular da China desfilam durante a parada militar em homenagem aos 70 anos da Vitória na Segunda Guerra Mundial, Pequim, China, 3 de setembro de 2015 - Sputnik Brasil
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Sputnik: Analistas políticos e econômicos traçam uma imagem da China em que o seu Governo dividiu a projeção do país em duas etapas: a primeira demonstrando ao mundo sua projeção econômica e financeira e a segunda um perfil menos conhecido da China, que é o seu perfil militar. O senhor concorda com esta avaliação de que a China dividiu em duas etapas sua projeção mundial?

Antônio Gelis: Eu concordo. O desenvolvimento econômico da China nas últimas três décadas é um forte candidato a ser considerado o maior fenômeno de desenvolvimento econômico da história da humanidade. Deng Xiaoping sempre alertou o povo chinês para a necessidade de ser discreto na sua ascensão, tanto quanto possível. Era um país periférico, um país que, embora com uma história muito longa, era uma economia muito atrasada – estamos falando do final dos anos 1970. Então, iniciou um processo de expansão assombroso e obviamente enfrentou resistência especialmente dos EUA e do Ocidente, como centros de hegemonia mundial, o que é natural no jogo das políticas. Sempre foi o jogo da China bastante prudente fortalecer-se economicamente para apenas posteriormente mostrar seu poderio militar, que é o poderio necessário a toda potência. Se você me permite, eu só acrescentaria que existe uma terceira etapa: a transmissão simbólica do poder hegemônico mundial.

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S: A China estaria assumindo um papel que até aqui era desempenhado pelos EUA?

AG: Após a crise financeira de 2008, no ano seguinte, em abril de 2009, houve uma reunião do G20, dos 20 países geopoliticamente mais importantes do mundo, incluindo Brasil, China e uma série de outros países emergentes. Foi em Londres, e algo bem interessante aconteceu: a maior parte da atenção estava voltada não ao Presidente Obama, mas sim aos líderes da China. Foi um sinal de que o mundo começava a perceber que o fenômeno chinês não era algo apenas temporário, mas que a China era um novo membro do clube das superpotências.

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