O Brasil é o país com maior incidência de raios por ano, e 80% das descargas ocorrem durante o verão. Isso se deve ao fato de o Brasil ser o maior país da chamada zona tropical do planeta, que apresenta clima mais quente e, por isso, mais favorável à formação de tempestades. Embora seja o recordista, o Brasil está em sétimo lugar no mundo em mortes causadas por raios. Em primeiro lugar está a China, com 700 mortes por ano. Em seguida vem a Índia, com 450, e a Nigéria, com 220 vítimas fatais.
Um levantamento realizado pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica mostrou que o número de óbitos em decorrência de raios no Brasil é maior do que o número de vítimas de enchentes ou deslizamentos. De 1991 a 2010, 2.640 pessoas morreram atingidas por raios. Neste mesmo período, 2.475 pessoas morreram por causa de enchentes e deslizamentos.
De acordo com o coordenador do Elat, Osmar Pinto Júnior, como as previsões vão ser divulgadas por veículos de comunicação, a ideia é fazer com que a população possa se prevenir, principalmente aquelas pessoas que trabalham nas zonas rurais.
“Então, as pessoas podem se programar. Tanto as pessoas que trabalham no campo, onde existem muitas vítimas de raios, como as pessoas nas cidades, as pessoas que querem fazer alpinismo, querem ir para a praia no verão, por exemplo. A gente tem tido várias fatalidades. Todo cidadão vai saber de antemão, com um dia de antecedência, aonde vai cair raio, e ele pode se programar para evitar uma fatalidade”.
Segundo Pinto Júnior, o sistema para verificar a incidência e a localização dos raios é parecido com os meios como se verifica a previsão do tempo.
“A partir de um modelo meteorológico, muito similar aos modelos que geram a previsão do tempo, só que aperfeiçoado com o aspecto que tem a ver com os raios. Os raios são associados a um tipo específico de nuvem de tempestade. E são essas nuvens que a gente precisou compreender melhor para que pudéssemos fazer um método que pudesse estimar quando elas vão ocorrer. Foram cinco anos de pesquisa tentando entender as características das tempestades num país continental como o Brasil. As características diferem de uma região para outra. A gente teve que compreender como que as coisas acontecem no Norte e como acontecem no Sul. Essa talvez tenha sido a principal dificuldade, quer dizer, conhecer as tempestades de um país continental como esse para que pudéssemos fazer a previsão”.
O pesquisador chama a atenção para a importância do sistema, diante de estudos de especialistas que apontam o aumento da frequência de tempestades severas com a incidência de raios devido ao aquecimento global, provocado pela crescente urbanização.
“Nós estamos percebendo que nas grandes cidades brasileiras, cidades com mais de 500 mil habitantes, os números de raios vêm crescendo, e as tempestades vem ficando mais fortes. Isso por causa da urbanização, por causa da grande concentração de pessoas e da poluição. Nós estamos vendo que, por exemplo, cidades como São Paulo têm tempestades em que, em poucas horas, 3 mil raios atingem o solo. No Rio de Janeiro, algumas já ultrapassam a marca de 2 mil. E aqui, em São José, cidade menor do que os grandes centros, já foram registradas algumas com mais de mil neste verão. Isso é uma preocupação muito grande não só pela vida humana, pois é bem verdade que nas grandes cidades as pessoas estão bem mais protegidas, dentro dos carros, dentro de casa, mas também pelos prejuízos que isso causa para a indústria em geral”.
Em média, os raios matam 110 pessoas por ano no Brasil. Osmar Pinto Júnior diz que a expectativa é usar o sistema para ajudar a diminuir o número anual de mortes no país.
“Sem dúvida deve diminuir, e já está, na verdade, diminuindo. Na primeira década deste século, de 2000 a 2010, nós tínhamos 130 mortes. Nesta segunda década, este número já caiu para 110, em função das iniciativas que temos feito. Agora, com esse tipo de informação, com a previsão antecipada de 24 horas na mídia em geral, a gente tende a levar esse número para um valor bem menor. A expectativa é que a gente consiga em cinco, dez anos, levar esse número para 20, 30 pessoas por ano, que seria uma coisa razoável no Brasil. O resto das mortes são mortes que a gente pode dizer que poderiam ser evitadas se as pessoas tivessem informação”.
O Elat informa que o sistema já está operando internamente em fase de testes desde o último verão, mas deve ser liberado para a mídia em geral no início de dezembro, quando começa o verão.