Esta semana, a agência de classificação de riscos S&P rebaixou a nota do Brasil (na quarta-feira, 9) e a da Petrobras (na quinta, 10). O professor de Finanças da Escola de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, Patrick Behr falou sobre o assunto com exclusividade para a Sputnik Brasil.
Patrick Behr: Na verdade, esse rebaixamento do rating do Brasil já era aguardado. A grande surpresa foi o momento, pois esperávamos esse rebaixamento para o final deste ano ou início do ano que vem.
S: Havia vozes no governo que contavam com esse rebaixamento apenas no primeiro trimestre de 2016.
PB: Essa era também a minha expectativa.
S: Então você considera que a agência se precipitou?
PB: Acho que nas últimas semanas ou no mês de agosto a situação econômica e a crise política pioraram além do que todo mundo esperava, e por isso a S&P tomou essa decisão agora, ao invés de esperar mais alguns meses.
S: E em relação à Petrobras, era esperado também esse rebaixamento?
PB: Era esperado. A Petrobras é uma empresa do Governo e depende do apoio dele. Se o risco de crédito do Governo aumenta, isso significa que a capacidade do Governo de apoiar as empresas governamentais diminui. Esse rebaixamento é uma consequência direta do rebaixamento do rating soberano do Brasil.
S: E o que significa esse rebaixamento? O Brasil perde o selo de bom pagador e passa a ser considerado mau pagador? O que isso traz de consequências para o país?
PB: A perda desse grau de investimento é uma coisa muito grave, porque significa que muitos investidores internacionais que compravam títulos da dívida do Governo brasileiro – mais os menos 20% da dívida pública estão nas mãos de investidores internacionais –, esses investidores americanos e europeus, pelas regulações de seus países, têm que vender agora esses títulos porque estão proibidos de investir em títulos de dívida de países que não têm grau de investimento, ou só investir uma pequena parte da sua carteira nesses tipos de títulos de dívida. Isso significa que muita gente vai querer vender, e tem menos gente que quer comprar, o preço desses títulos vai cair – já caiu, na verdade –, esse é o primeiro efeito direto. O segundo efeito direto é que vai aumentar ainda mais o custo de financiamento do Governo brasileiro, que nesse momento já está em uma situação muito difícil. A receita caiu; há crise fiscal; há essa crise política, e agora vai ser mais difícil ainda emitir títulos de dívida, e tanto o Governo quanto a Petrobras têm que oferecer um retorno maior para os investidores. Isso complica a situação do Governo brasileiro e também a da Petrobras.
PB: Certamente. Mas esse caso não é relacionado à atual situação no Brasil. Nós sabemos hoje que não só a Standard & Poor's mas também as outras duas, a Moody's e a Fitch, deram notas melhores do que realmente eram porque quem recebe a nota é quem paga a agência. Há esse conflito de interesse, e no caso dos papéis subprime nós sabemos hoje que essas agências deram notas inflacionadas, mas nesse caso do rebaixamento a agência dá uma nota pior, então são situações completamente diferentes.