Kai Enno Lehmann concedeu entrevista exclusiva à Sputnik Brasil a propósito da realização em Joinville, Santa Catarina, do 33.º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, no qual foram discutidas formas de incrementar a parceria econômica e comercial entre os dois países.
Embora vivam realidades distintas – comenta o Professor Lehmann –, o Brasil poderá absorver as lições da Alemanha, tentando se livrar da dependência das commodities e passando a investir em produtos acabados.
Sputnik: O que a Alemanha fez para se recuperar da crise econômica mundial de 2008-2009 e hoje se transformar num centro de referência internacional em termos de pujança de economia?
Kai Enno Lehmann: A grande vantagem que a Alemanha tem em comparação a muitos países, e certamente a muitos países em desenvolvimento como o Brasil, é que a Alemanha tem uma economia que produz e exporta muito. Ela não depende de commodities como petróleo e gás, ela produz carros, por exemplo, e neste sentido tem opções de mercado quando a economia interna, o mercado doméstico, não está indo bem. A Alemanha é um dos maiores exportadores do mundo – já foi o maior, hoje a China exporta mais – e tem uma economia muito aberta e internacional. Isso ajuda bastante a superar uma crise como aquela que aconteceu em 2008-2009.
S: O que se pode lembrar daquela época?
KEL: Foi uma época de ansiedade, mas, de um modo geral, eu diria que nós, alemães, somos ansiosos a maior parte do tempo. Existe uma crença na Alemanha de que, para o alemão, “a felicidade é o momento entre a última e a próxima crise”. O alemão sempre tenta se preparar para alguma eventualidade, poupa muito dinheiro, não gasta o que não tem. Naquela época os alemães estavam poupando, não estavam gastando muito. Isso, num momento de crise, individualmente faz sentido, mas para a economia do país é potencialmente ruim, porque é preciso que as pessoas gastem dinheiro. Neste caso, o fato de a Alemanha ser uma economia exportadora é muito importante, ajuda muito a diminuir o impacto negativo de uma crise.
S: Pode se traçar um paralelo com o Brasil? Ele teria nas exportações a saída para a recuperação de sua economia?
KEL: Acho difícil porque o que o Brasil exporta são commodities, principalmente, que dependem muito dos preços do mercado mundial. O Brasil teria que investir muito, e ao longo de muitos anos numa economia produtiva que faça com que o Brasil possa exportar produtos acabados em vez de matérias-primas.