Os familiares das vítimas de ataques dos nacionalistas ucranianos em meados dos anos 1940 acreditam que Pyotr Poroshenko “não é digno” da maior condecoração do Estado polonês por ter defendido, longa e sistematicamente, os grupos nacionalistas ucranianos OUN (sigla em ucraniano para União dos Nacionalistas Ucranianos) e UPA (sigla em ucraniano para Exército Rebelde da Ucrânia), que atuavam no final da primeira metade do século XX. Aqueles grupos cometeram diversos crimes contra os poloneses nas regiões fronteiriças entre a Ucrânia e a Polônia, deixando um balanço trágico de mortes. Stepan Bandera foi um dos ideólogos e combatentes mais famosos destes grupos.
Segundo Marek Poznanski, deputado do Sejm (parlamento polonês), contatado pela Sputnik, a iniciativa será “uma espécie de teste para o presidente Duda”.
“É preciso reconhecer que Duda ficou em uma situação difícil. Se ele não estiver em condições de achar uma saída, ele mostrará que a maioria das iniciativas do partido Lei e Justiça [PiS, na sigla em polonês] é só para inglês ver. Se ele não reagir à situação, nem que seja uma explicação, uma tentativa de aproximar-se da verdade histórica nas relações entre os ucranianos e os poloneses, isso vai mostrar que todas as ações tanto por parte do presidente, como por parte do PiS só são promessas vazias e manobras políticas”, explica Poznanski.
A verdade histórica é um assunto difícil nas relações entre os dois países ultimamente. Buscando provavelmente não ver o seu poder minado pelos nacionalistas (como o grupo Setor de Direita, proibido na Rússia), o presidente ucraniano tem implementado, durante o ano em curso, vários projetos e assinado vários documentos que glorificam os nacionalistas de há 60 anos, que massacravam famílias e em uma época chegaram a colaborar com a Alemanha nazista.
O fato de o então presidente da Polônia, Bronislaw Komorowski, conceder a mais alta condecoração polonesa a essa pessoa foi, pelo visto, um ato bastante formal de apoio às autoridades ucranianas, manifestado ultimamente (e também formalmente) pelos governos da União Europeia.
A Ucrânia mantém uma operação militar no Leste do país, combatendo a região de Donbass, cuja população, na sua maioria, não quis reconhecer, em fevereiro de 2014, as novas autoridades nacionais, que se autoproclamaram como tais na sequência de um golpe de Estado em Kiev.
Agora, Andrzej Duda, presidente eleito em finais de maio e incumbente desde 6 de agosto do ano em curso, enfrenta um dilema: ou vai deixar a solicitação sem reagir, ficando na veia geral da atitude ocidental, ou vai retirar a medalha do presidente do país vizinho, criando um precedente em prol da história.
O deputado Poznanski duvida que o presidente Duda vá anular a condecoração de Poroshenko por “falta de coragem política”.
Já segundo o padre Tadeusz Isakowicz-Zaleski, a “Ordem da Águia Branca é um ultraje para as famílias das pessoas mortas durante o genocídio de Bandera”.
A Ordem da Águia Branca, instituída pela primeira vez na Polônia em 1705, foi restaurada em 1992 como maior condecoração de Estado.