Na sessão da terça-feira, o Congresso manteve 26 dos 35 vetos apresentados por Dilma Rousseff. A presidente e seus ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nélson Barbosa, consideram fundamental o respaldo dos parlamentares para o êxito das medidas destinadas à recuperação da economia brasileira.
O economista Renato Baumann, pesquisador do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, pensa que “o que é possível no âmbito econômico depende do que será factível no processo negociador no âmbito político”.
A seguir, a entrevista com o pesquisador do IPEA.
Sputnik: O senhor acredita que as ações políticas estejam produzindo reflexos na economia brasileira e a estejam levando a um ponto crítico?
Renato Baumann: Há um conjunto de considerações a serem feitas. A equipe econômica tem proposto um conjunto de temas: aumento de tributos, cancelamento de novos gastos e um pouco menos de corte de despesas efetivas. Isto tem tido alguma receptividade no Congresso, nem sempre totalmente favorável, da mesma forma que tem tido receptividade junto aos chamados grupos sociais mobilizados, tampouco com muita receptividade. Isto dá margem a um conjunto de interrogantes com relação a como pode ficar este cenário. Ontem o Congresso brasileiro deu algumas boas notícias ao Executivo ao confirmar 26 de 35 vetos que a presidente tinha feito com relação a medidas anteriormente aprovadas no Congresso. Há alguns temas bastante importantes a serem discutidos, a serem aprovados ou refutados em Plenário, mas este resultado de ontem dá uma sinalização política significativamente distinta do que se tinha 48, 72 horas atrás. É possível que se tenha um conjunto de boas notícias da mesma forma que é possível que estes temas pendentes, que são bastante significativos, venham a causar novos ruídos. Tal como está hoje, houve mais motivos para comemoração do que para arrependimento no Palácio do Planalto. Ao mesmo tempo, o noticiário aponta no sentido de que a presidente tenha acenado ao principal partido político da base governista – e principal partido político em termos de dimensões, que é o PMDB – a alocação de Ministérios para membros indicados por este partido. Isto como moeda de troca para evitar uma postura mais radical por parte dos parlamentares no que se refere às iniciativas que estão tramitando no Congresso pedindo o impeachment da presidente.
S: O Congresso sinaliza que apoiará a presidente da República?
RB: Até o momento o principal partido tem reduzido o tom de suas afirmativas mais pesadas em relação à presidente. Há detalhes que permitem um tipo diferente de leitura, como o fato de que o vice-presidente da República não teria participado da reunião de discussão dos nomes indicados pelo partido. Se isso é uma posição de afastamento do Governo ou se é simplesmente um acúmulo de agenda, é difícil dizer. É cedo para se conseguir interpretar todas as nuances desse novo cenário.
S: Podemos concluir que há uma conexão entre fatos políticos e econômicos?
RB: Com certeza. O que é possível no âmbito econômico depende do que será factível no processo negociador no âmbito político.