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Exército alerta: Brasil corre risco de regredir 40 anos na Defesa

© AFP 2023 / CHRISTOPHE SIMON  / Acessar o banco de imagensRetirada do Corpo de Fuzileiros Navais do Complexo de Favelas da Maré, na zona norte do Rio, em 30 de junho de 2015
Retirada do Corpo de Fuzileiros Navais do Complexo de Favelas da Maré, na zona norte do Rio, em 30 de junho de 2015 - Sputnik Brasil
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A crise econômica atingiu os projetos da base industrial de Defesa Nacional. O comandante do Exército, General Eduardo Villas Bôas, alertou em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal que todos os projetos da área da Defesa estão sofrendo com fortes atrasos devido aos cortes orçamentários.

O Exército Brasileiro considera como prioritários um grupo de 7 programas, que vão do lançamento de foguetes à criação de viaturas blindadas, do monitoramento por meio de radares à defesa cibernética. A falta de recursos para dar continuidade aos projetos preocupa militares e parlamentares. Para a realização dos programas mais estratégicos para o país, os investimentos somam mais de R$ 70 bilhões, e, no entanto, até agora apenas uma parte pequena de recursos foi liberada.

De acordo com o General Eduardo Villas Bôas, o país pode retornar a uma situação de 40 anos atrás, quando o Brasil era a oitava maior indústria de Defesa do mundo, e tudo foi perdido.

O comandante do Exército acredita que mais dois anos nessa situação e todo o esforço pode se perder, gerando uma regressão no setor perante o mundo.

“Nós estamos no limite”, diz o general. “Se tirarmos R$ 1 desses projetos, as empresas vão ter que descontinuá-los. A solução, me parece, extrapola a questão meramente financeira e orçamentária. Eu acho que nós estamos vivendo uma ameaça, sim, de perdermos todo esse capital que conseguimos recuperar”.

O projeto principal e mais preocupante para o Exército, e que o General Villas Bôas lamenta, é o Sisfron – Sistema Integrado de Monitoramento das Fronteiras, de extrema importância no combate ao narcotráfico no Brasil e também para o desenvolvimento social e de saúde na região de Mato Grosso do Sul onde está sendo implantado. Dos R$ 10 bilhões previstos para o desenvolvimento do programa na região, somente 7,2% foram disponibilizados.

O Senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), membro da Comissão de Defesa Nacional, se diz preocupado com o prazo para o término do programa, que começou a ser implantado em 2013, e ainda com a situação das empresas que compõem a base industrial de Defesa e são responsáveis pelo desenvolvimento, produção e manutenção de produtos estratégicos.

“O Sisfron foi projetado para ser implantado em 10 anos”, relata o Senador Ferraço. “À manutenção desse cronograma físico-financeiro, ou desse ritmo de desembolso por parte do Estado brasileiro, esse programa não será implantado nem em 60 anos. Esse programa, portanto, se transformou em ficção”.

Para o General Villas Bôas, hoje a maior ameaça à sociedade brasileira é a atuação dos cartéis internacionais ligados ao tráfico de drogas, e o Sisfron, quando estiver em funcionamento, será uma peça fundamental no combate à atuação desses grupos.

O comandante do Exército ressalta que atualmente milhões de brasileiros sofrem a consequência direta da falta de proteção das fronteiras, por onde entra a droga responsável por 80% da criminalidade urbana, segundo dados da Polícia Federal.

“Na questão da violência, os nossos indicadores são estarrecedores”, ressalta Villas Bôas. “Morrem assassinadas por ano no Brasil 55 mil pessoas. São estupradas por dia no Brasil 100 mulheres. Desaparecem por ano no Brasil 200 mil pessoas, e 20 mil não reaparecem. Nenhum conflito no mundo cobra um índice tão grande de perdas humanas”.

De acordo com o comandante do Exército, já foi detectada a atuação desses cartéis na Região Amazônica, inclusive com a plantação e cultivo de drogas na região de fronteira.

A Senadora Ana Amélia (PP-RS), também da Comissão, chama a atenção para o fato de que o investimento em defesa está ligado ao desenvolvimento tecnológico do Brasil:

“Eu entendo Defesa como investimento, como inovação tecnológica”, diz a senadora gaúcha. “Não se pode imaginar Defesa apenas como preparação para a guerra”.

Diante da situação crítica, o comandante do Exército defendeu o ministro da Defesa, Jaques Wagner, que para ele tem se esforçado para reduzir ao máximo os impactos dos cortes sobre a Pasta, e garantiu que o ministro tem total conhecimento da situação existente hoje.

A partir das audiências públicas, a Comissão deve apresentar até o final do ano um relatório sobre a eficácia das políticas de Defesa Nacional, adotadas pelo Governo.

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