A jornalista Denize Bacoccina é responsável pela Superintendência de Agências e Conteúdos Digitais da EBC – Empresa Brasil de Comunicação. Com 26 anos de carreira e tendo passado por diversos órgãos de imprensa do Brasil, como os jornais “O Estado de São Paulo”, “A Gazeta”, “Gazeta Esportiva”, “Diário do Povo” e “Correio Popular”, ela também atuou na BBC de Londres entre os anos 2000 e 2008.
Para o encontro de mídias dos BRICS em Moscou, a jornalista brasileira leva a experiência do que se produz no Brasil em termos jornalísticos e a contribuição que as emissoras de rádio e televisão da EBC prestam ao país. Denize Bacoccina fará a sua participação no sentido de promover um maior conhecimento entre os países do BRICS.
Sputnik: Qual a sua opinião sobre a importância deste evento promovido pela Rossiya Segodnya, em Moscou?
Denize Bacoccina: É muito importante, porque esses países que formam o BRICS têm uma diversidade muito grande e é relevante que saibamos mais uns dos outros. Aqui no Brasil não temos muita informação, sobre a China nós temos um pouco, mas não temos muito sobre a África do Sul, sobre a Rússia, e por isso é muito interessante este intercâmbio de informações. Imagino também que na Rússia não se saiba muito sobre o Brasil. Acho muito importante que cada um desses países, cada uma dessas agências de notícias, possa informar aos outros países seu ponto de vista. Diferentemente de uma agência internacional que tem o olhar de um terceiro. É muito necessário que possamos entregar notícias do Brasil com a nossa expertise de brasileiros, de pessoas que vivem aqui. Acho que nós conseguimos ter uma visão mais acurada, que não passa por clichês que as agências internacionais têm. Acho bastante importante aumentar a integração entre esses países.
S: Com sua experiência de jornalista internacional, como você imagina ser possível concretizar um ponto de vista comum por parte destes cinco países do BRICS, dois deles asiáticos, um europeu, um sul-americano e um africano. Como se pode harmonizar todas estas visões?
DB: Acho que o desafio é justamente não ter um ponto de vista comum, é preservar a diversidade, porque, se partirmos para o ponto de vista comum, caímos no erro das agências internacionais que têm essa visão eurocêntrica do mundo. Se cada país conseguir levar a sua notícia, com seu conhecimento do país, para os outros países, este é o grande diferencial. Não é um desafio simples, são cinco países bastante diferentes, e a dificuldade é justamente a riqueza desse projeto que vai começar agora com este evento mas não é uma coisa que possa ser concluída muito rapidamente, tem que ter uma construção ouvindo todo mundo. Estou indo para a Rússia amanhã para ouvir estes pontos de vista diferentes de cada um deles. Vamos ver como os outros parceiros enxergam isso.
S: Quais as propostas que estão sendo levadas para este encontro inicial de formação de um espaço comum de mídias dos países BRICS?
DB: Nós levamos a experiência que temos aqui na América Latina com a ULAN – União Latino-Americana de Agências de Notícias. São vários países da região com um site em espanhol a que todos esses países enviam notícias que podem ser utilizadas por todos os outros que são os fornecedores de notícias, e também por outros ainda. Existe uma comunidade muito grande de pessoas que falam espanhol nos EUA – então os leitores estão na própria região, como também em outras regiões do mundo onde há pessoas que falam espanhol. Levamos este exemplo de como cada país entrega suas próprias notícias, da sua cobertura, traduzidas para o espanhol, num espaço único onde todos podem acessá-las. O site é alimentado por todos esses países, como eu imagino que seria também uma agência do BRICS, alimentada por cada país para que todos os demais tenham acesso a esse conteúdo.
S: Tenho a impressão de que este encontro vai colaborar muito para a compreensão e o conhecimento recíproco dos povos.
DB: Eu acho que é isso. Nós sabemos muito pouco desses países, e projetos desse tipo colaboram para o conhecimento recíproco. Os especialistas conhecem, mas a população, não, o destinatário final da notícia não conhece, e é muito importante que tenhamos uma visão ampla do mundo. No Brasil, por ser um país muito grande, temos muita notícia nacional e muito pouca notícia do mundo. É importante termos uma visão mais abrangente do mundo, e projetos desse tipo ajudam a isso.
S: A maior parte das informações que chegam sobre esses demais países vem por agências ocidentais, dificilmente chegam por agências oficiais de cada país ou então com a visão desses países sobre os fatos que ocorrem em seus territórios ou que envolvem a participação desses países em cenários internacionais.
DB: Exatamente, acho que é esta a vantagem e, é claro, desde que eles tenham um manual de jornalismo que preveja sempre o interesse público, como é o nosso caso, uma visão plural, equilibrada, ouvindo todos os lados. E é muito importante que isso seja preservado em todos os países, o material vindo de todos os países para que tenhamos uma visão mais equilibrada e abrangente da realidade. Como você mencionou, é uma parte do mundo que conhecemos pouco, e acho que é uma oportunidade muito grande para aumentar o nosso conhecimento desses países.