O especialista em políticas latino-americanas Fernando Almeida, professor do Curso de Relações Internacionais do INEST – Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, explica a ação movida pela Universidade do Estado de Washington e conta como e por que aconteceu o trágico evento que, ocorrido há 34 anos, até hoje traumatiza e marca a História salvadorenha.
“O que houve então em El Salvador foi o início de uma guerra civil que durou 12 anos, e em que o Governo dos Estados Unidos esteve envolvido, apoiando o Governo local contra o movimento revolucionário que se desenvolvia naquele país centro-americano depois do assassinato do Bispo Óscar Romero”, relembra o Professor Almeida. “Romero era um opositor do Governo e seguidor da Teologia da Libertação.”
“No dia 14 de novembro de 1981”, ainda segundo conta o especialista do INEST, “começou um ataque do Exército salvadorenho contra várias aldeias do interior do país. O Governo achava que lá havia, no mínimo, apoio à guerrilha da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional. Em Santa Cruz, no Departamento de Cabañas, 1.200 soldados passaram 10 dias cometendo barbaridades contra a população civil. Mulheres e meninas foram estupradas e mortas. Homens adultos, idosos e crianças também encontraram a morte. No total, foram encontrados 440 corpos, mas se estima haver mais de mil”.
A guerra civil de El Salvador foi altamente destrutiva, comenta o Professor Fernando Almeida:
“Hoje mais da metade da população do país vive na faixa da miséria, estando cerca de um milhão de salvadorenhos no exterior. Tudo por causa da violência dos anos 80”.
Almeida explica o motivo de a Universidade de Washington estar agora exigindo da CIA as informações sobre o envolvimento dos Estados Unidos naquele massacre de 1981 e na repressão ao movimento da Frente Farabundo Martí:
“A ação da Universidade americana – mais uma, já que foram feitos mais de 200 outros requerimentos – se deve ao fato de que o Governo salvadorenho tem que cumprir determinações da OEA – Organização dos Estados Americanos e da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Desde 2012-2013, El Salvador tem que atender essas exigências, investigando seus próprios agentes estatais. E a Universidade de Washington pretende que seja revelado o envolvimento de agentes norte-americanos naquele processo”.
A Lei de Anistia que foi promulgada em El Salvador não cobre os crimes praticados nos anos 80. “São crimes contra a humanidade”, comenta Fernando Almeida.