O jornal relata que as propostas do projeto incluiriam a construção de uma cerca de arame farpado ao longo das fronteiras orientais da Alemanha – medida semelhante à tomada pela Hungria – e a criação de barricadas similares às que foram destruídas após a queda do Muro de Berlim.
O deputado Christian von Stetten (UDC), defensor da iniciativa, disse ao Bild que o governo deveria considerar a opção de levantar novos muros na fronteira do país, e que o plano seria votado dentro de duas semanas.
"Temos que parar o influxo de refugiados. Não deve haver tabus sobre a tomada de um outro olhar sobre nossas fortificações de fronteira", opinou.
"Se nós fecharmos nossas fronteiras desta forma, a Áustria também irá fechar a fronteira com a Eslovênia. Isso é exatamente o efeito que nós precisamos", disse o líder sindical.
O deputado von Stetten, por sua parte, afirmou estar confiante de que o governo vai conseguir elaborar um plano para frear o número crescente de refugiados, mas reconheceu que o chamado plano secreto para construir um muro ao longo das fronteiras do país poderia se tornar realidade.
"Se esta hipótese se provar errada ao longo da próxima semana, nosso grupo parlamentar terá que reagir", advertiu o parlamentar.
A ideia de levantar um muro de tamanhas proporções na Alemanha carrega um significativo peso histórico no país que encarnou por quase 30 anos, no simbolismo do Muro de Berlim, a divisão do mundo em dois blocos isolados.
Além disso, o plano também representa um verdadeiro pesadelo político para Merkel, que tem rejeitado todas as propostas neste sentido, inclusive condenado a Hungria por ter adotado medidas semelhantes.
Apesar de agências e organizações de ajuda humanitária elogiarem a Alemanha por permitir a entrada massiva de refugiados em seu território, particularmente no que diz respeito aos que fogem da guerra na Síria, outros grupos atacam o governo, alegando que a abertura do país em tal proporção colocará a economia e a estrutura social Alemanha sob pressão.
De fato, a popularidade de Merkel caiu para seus níveis mais baixos nos últimos meses, em meio à crescente insatisfação com a política governamental de gerenciamento da crise de refugiados. Uma pesquisa de opinião divulgada na semana passada revela que dois terços dos alemães (64%) não concorda com a insistência da chanceler em dizer que a Alemanha será capaz de "gerir” a situação em curso.
No último sábado (17), Henriette Reker, candidata favorita à Prefeitura da cidade de Colônia, uma das maiores da Alemanha, foi esfaqueada em um mercado público. De acordo com a polícia, o homem que a atacou disse que "os estrangeiros" motivaram a agressão. Mais especificamente, ele teria afirmado que a política de recepção a refugiados defendida por Reker — a mesma patrocinada por Merkel — era a razão de seu ato de xenofobia.
Por outro lado, ainda parece haver muitos braços abertos no país para os refugiados. Lembrando as diversas manifestações de solidariedade testemunhadas nas arquibancadas dos estádios, nas estações e nas ruas alemãs, Carlos Felipe Morgado, brasileiro que vive no país europeu desde 2013, afirma que "há um monte de pessoas na Alemanha com braços, mentes e corações abertos esperando a chegada dos refugiados".
#Germany Borussia Dortmund <-> St. Pauli Hamburg 1000 refugees invited to watch #Soccer in stadium #RefugeesWelcome pic.twitter.com/ltqic35hxC
— Mark (@markito0171) 9 setembro 2015
"Sem solidariedade e compreensão, definitivamente não há jeito de encontrar 'soluções políticas'. Esta é a imagem que eu acho que todos nós gostaríamos de ver na Europa. Deixem-nos passar!", escreveu o especialista em migração e relações interculturais europeias, em manifesto nas redes sociais.
Seja como for, o clima de dissidência no país, além de acirrar a animosidade política contra refugiados e imigrantes, definitivamente representa uma preocupação a mais para Merkel, que já enfrenta o maior desafio de seus 10 anos na liderança da maior potência econômica da União Europeia.