Em Governador Valadares, onde aconteceu o acidente, a captação de água do rio está interrompida deste domingo (8), quando a água começou a ficar escura e peixes mortos começaram a surgir. Apesar dos técnicos da mineradora afirmarem que os resíduos das barragens não eram tóxicos à saúde, técnicos dos serviços municipal e estadual analisaram a água do Rio Doce e afirmaram que ela tem sim uma grande quantidade de ferro e substâncias tóxicas, como mercúrio.
Como não se pode confiar na qualidade da água que vai chegar junto com a lama no Espírito Santo, as prefeituras das cidades de Colatina e Baixo Guandu já decidiram suspender o abastecimento de água assim que a lama chegar ao estado, e recomendaram à população economizar e armazenar água em casa.
A Defesa Civil realizou uma operação no último domingo (8) para retirar pescadores, moradores e banhistas das comunidades próximas ao Rio Doce, no Noroeste do Espírito Santo. O coronel Fabiano Bonno, do Corpo de Bombeiros, registrou em vídeo os objetivos da ação para proteger a população que pode sofrer algum risco com o aumento da vazão do Rio Doce.
“Nesse primeiro momento o objetivo da Defesa Civil é a retirada desse pessoal, pescadores e banhistas, da área de risco, porque essa onda é bastante densa, cheia de lama, e, apesar da previsão de chegar uma onda baixa, ela pode trazer transtornos de deslocamento para esse pessoal que está ilhado nos acampamentos de pescadores. Com a chegada dessa onda, o abastecimento vai ser interrompido. A gente está com a operação de manter os serviços essenciais do município com carros-pipa de água potável, e, se for estendido esses dias e o município precisar de mais ajuda, nós vamos acionar outros órgãos do governo do estado para auxiliar no fornecimento de água mineral.”
Em Mariana, a segunda-feira (9) foi de recomeço para as famílias que perderam tudo após o rompimento das barragens da mineradora Samarco. Uma Força-Tarefa da Polícia Civil abriu um posto e começou a emitir para os desabrigados a de 2ª via de documentos, como a carteira de identidade.
As buscas por sobreviventes e desaparecidos também tiveram reinício nesta segunda-feira. A última lista oficial da Prefeitura de Mariana informa que 24 pessoas seguem desaparecidas, e que há 3 mortes confirmadas. Cerca de 600 pessoas estão em hotéis e pousadas e no ginásio de Mariana e cerca de 200 estão alojadas na casa de parentes.
Segundo o Governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, já estão sendo restabelecidos os acessos para que o resgate chegue às localidades mais isoladas da região atingida pelo acidente, e a prioridade ainda é a busca pelos desaparecidos, mesmo que seja difícil encontrar sobreviventes.
“É realmente um desastre, uma tragédia de grande extensão. Quando a gente sobrevoa o rio, a gente tem uma noção do que foi, a quantidade de resíduos que desceu, foi uma tragédia muito grande. E nós estamos, na medida do possível, restabelecendo o acesso àquelas localidades que estavam isoladas. E agora, infelizmente, o que temos que fazer de forma mais prioritária é a busca dos corpos. Não quero tirar a esperança de ninguém. Pode ser que a gente consiga achar alguém ainda com vida, mas à medida que o tempo vai passando, a esperança vai diminuindo. Infelizmente, é isso que a gente pode constatar agora.”
No domingo, a Ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direito Humanos, Nilma Lino Gomes, visitou a região atingida em Minas Gerais. Em entrevista à TV NBR, ela contou que conversou com algumas pessoas afetadas pela lama e discutiu com representantes dos municípios envolvidos e do estado o cumprimento das orientações do protocolo de proteção às pessoas em situações de riscos e desastres, principalmente no casa de crianças, adolescentes, idosos e portadores de deficiência.
“Nós agora vamos entrar numa nova etapa, que é o processo da recuperação, a fase após o momento mais emergencial, dessa acolhida das pessoas, do cuidado com a saúde, das crianças em relação à escola. Eu fui também conversar com o poder público local e com o governo estadual sobre o nosso protocolo nacional conjunto para a proteção integral a crianças e adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência em situação de riscos e desastres. Nós sabemos que todas as pessoas aqui estão em situação vulnerável, mas crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência sofrem muito mais em situações como essa. Então, um cuidado especial, um olhar especial da perspectiva dos direitos humanos para esses coletivos é muito importante.”
O Ministério Público, além de instaurar inquérito para investigar as causas do acidente, quer que a fiscalização da mineradora seja mais rigorosa. O órgão fez algumas recomendações à Samarco, que devem ser cumpridas em um prazo de cinco dias. A mineradora deve identificar todas as vítimas do acidente, estabelecer a necessidade de cada um dos desabrigados, fornecer um salário-mínimo para cada uma das famílias atingidas e providenciar um plano para indenizar as vítimas. Caso as medidas não sejam cumpridas no prazo, o Ministério Público poderá entrar com outras medidas judiciais.
Nesta segunda-feira, a Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais informou que embargou todas as atividades da mineradora no estado. A empresa só vai poder retomar as atividades depois de concluídas as investigações sobre as causas do rompimento das barragens.