Sputnik Brasil ouviu as duas personalidades, que falaram com exclusividade sobre o movimento que bloqueou rodovias em vários Estados, afetando a economia e chegando a ser acusado, pela Presidenta Dilma Rousseff, de praticar ações criminosas.
Para José Augusto de Castro, presidente da AEB, ainda é cedo para se falar de perdas financeiras dos exportadores, pois não há uma quantificação desses valores: “No máximo, temos até o momento custos adicionais, pois as mercadorias estão demorando mais tempo para ser embarcadas e desembarcadas.”
Já Nélio Botelho – cuja entidade Movimento União Brasil Caminhoneiro não aderiu à paralisação – entende que o movimento não durará muito tempo justamente por ser uma iniciativa isolada e não contar com a adesão da maior parte da categoria.
Além disso, dizem José Augusto de Castro e Nélio Botelho, há uma declarada motivação política na iniciativa, o que jamais aconteceu em qualquer outra paralisação de caminhoneiros.
Botelho garante que “o Movimento União Brasil Caminhoneiro não tem absolutamente nada a ver com essa mobilização”.
“Eu diria que foi uma coisa sui generis, que teve origem nas redes sociais por meio de grupos que são radicalmente contrários ao Governo Federal e a partidos políticos”, afirma Nélio Botelho. “Estamos acompanhando desde o início, e, pelo que pudemos apurar, a origem foi exatamente porque, como é notório e sabido, existe toda uma mobilização de forças contrárias ao Governo, em função de questões econômicas, políticas, etc., e há uma campanha para o impeachment da presidente. Mas, de acordo com os últimos acontecimentos, parece que está claro e evidente que não é através deste tipo ação, de redes sociais e coisas semelhantes, que se vai conseguir o impeachment.”
Nélio Botelho defende que “esses grupos descobriram que não há como conseguir seus objetivos e perceberam que no país existe uma categoria, que é a dos caminhoneiros, que tem um potencial extraordinário de mexer com o Governo e abalar o país, porque o Brasil depende do transporte de carga e do caminhoneiro, e nas mobilizações anteriores ficou provado que esta é a única categoria que tem potencial suficiente para paralisar o país, se for necessário”.
O presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro relata:
“Estes grupos de redes sociais, ao perceber isso, foram atrás de lideranças de caminhoneiros e vieram até falar conosco para fazermos aliança e tocar essa questão para frente, e nós os repelimos, porque não temos nada a ver com isso, não somos políticos. Eles foram atrás de alguns personagens, totalmente desconhecidos entre os caminhoneiros, fizeram aliança com esse pessoal e programaram essa greve. Esses grupos são totalmente alheios ao setor de transporte, são grupos políticos, que iriam para as estradas junto com alguns caminhoneiros, para poder bloqueá-las e exigir o impeachment.”
Por seu lado, José Augusto Castro, presidente da AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, afirma que “a greve não é organizada por entidades patronais do setor de transporte, é feita por caminhoneiros independentes”.
Em relação aos efeitos da greve sobre o setor de exportações, que ele representa, Castro considera que, como neste momento o comércio exterior está mais fraco do que estava no início do ano, quando houve a outra paralisação, o impacto hoje é muito menor. “Por isso, até agora, estamos recebendo apenas informes, não de problemas, mas da situação. Ainda não podemos caracterizar isso como problema.”
O presidente da AEB considera não haver termo de comparação entre a greve do início do ano e esta de agora, “porque a anterior foi organizada e durou muito tempo”.
“Eu não vou dizer que esta greve é desorganizada, mas ela tem menor infraestrutura, e a tendência é que se esvaia durante esta semana. Ela não tem fôlego para prosseguir porque não tem uma estrutura de entidade por trás. Então, o impacto é muito diferente. Esta, agora, atrapalha, mas não inviabiliza as operações econômicas.”
Finalmente, concordando com o pensamento de Nélio Botelho, do Movimento União Brasil Caminhoneiro, o presidente da AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto Castro, comenta:
“É uma greve que, infelizmente, tem um componente político muito grande. E alguém, sem ser credenciado, fazer alguma exigência – isso enfraquece o movimento. O Governo tomou algumas medidas, estabeleceu multas pesadas, que certamente vão assustar alguns participantes, e isso fará com que até o final desta semana a greve diminua ou se encerre completamente, sem qualquer negociação, porque não há um interlocutor credenciado para negociar. Há pessoas que se autodenominam credenciadas, mas credenciadas por quem? Neste momento em que já estamos passando por uma crise econômica bastante forte, não é bem-vinda uma greve, independentemente dos fatores que a justifiquem. O momento não é adequado para esta greve, embora ela tenha sido anunciada com quase três semanas de antecedência, Mas não é bem-vinda neste momento. É uma greve que não tem uma estrutura para ter longo prazo. O fôlego dela é curto.”