"Temos analisado os eventos que ocorrem na Síria especialmente de perto, acompanhando as operações das Forças de Defesa Aeroespacial da Rússia, a fim de poder oferecer uma forte resistência caso estas forças sejam usadas contra a Ucrânia", disse ele.
Segundo alguns analistas, Turchinov contradisse com sua declaração as acusações não comprovadas e repetidas por autoridades ucranianas durante o último ano e meio sobre o Exército ucraniano tendo que lutar contra o "Exército russo" no leste do país.
Comentando as palavras do oficial ucraniano em um artigo recente para o jornal Svobodnaya Pressa, por exemplo, o jornalista e analista militar Sergei Ischenko destacou que "nenhum exército contemporâneo luta sem sua própria aviação de combate – as Forças Armadas da Federação Russa inclusive”.
“Se a Rússia realmente tivesse se envolvido em combates na região de Donbass [Leste da Ucrânia], Turchinov não teria precisado observar como as bombas e mísseis [russos] caem sobre os militantes islâmicos na Síria; as autoridades da Ucrânia teriam bastante experiência de combate de sua própria parte para analisar", disse o analista.
Deixando de lado a sugestão absurda de que a Rússia, cujas próprias Forças Armadas se viam à beira do colapso na década de 1990, poderia ter tido algum papel na corrupção e nos cortes que destruíram as defesas da Ucrânia durante o mesmo período, Ischenko sugeriu que valia a pena analisar a situação que o país enfrenta atualmente.
Aliás, foi nesse período, entre 2004 e 2005, que o próprio Pyotr Poroshenko, atual chefe de Estado ucraniano, atuou como Secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, antes de ser demitido junto com outros ministros devido a acusações de corrupção.
"Este enorme buraco, não mais observado por quaisquer operadores de radar, permite que literalmente qualquer um e qualquer coisa voe por ali," observou Ischenko. "Portanto, a estratégia de defesa aérea zonal (prontidão para repelir um inimigo em uma direção estratégica) foi abandonada em favor de uma estratégia de defesa objetiva (cobertura seletiva sobre, pelo menos, os alvos mais importantes)."
Esta, explicou o analista, é a conclusão a que chegou o Conselho Militar do partido da Frente Popular de Arseniy Yatsenyuk (primeiro-ministro da Ucrânia), que também reconheceu em um recente relatório que as forças de defesa aérea do país foram reduzidas a "quatro brigadas anêmicas de mísseis antiaéreos e nove regimentos de mísseis antiaéreos".
Ischenko também destacou que o país tem alguns sistemas modernos, incluindo o S-300PT/PS e o S-300 V, “embora quando se trata dos foguetes para estes sistemas, exista o mesmo problema: suas validades estão se esgotando”.
“De acordo com algumas estimativas, apenas quatro complexos de mísseis antiaéreos podem ser mais ou menos confiantemente considerados prontos para o combate em toda a Ucrânia – um perto de Dnipropetrovsk e três perto de Kiev".
Quanto a usar a Força Aérea como um instrumento para a defesa antiaérea, Ischenko observou que esta também não é uma possibilidade, uma vez que entre as quatro brigadas de aviação tática do país, apenas cerca de 20 Su-27s e um número equivalente de MiG-29s são considerados apropriados para o voo.
"Quanto a quantos deles estão em condições de levar a cabo operações de combate e de retornar às suas bases – isto permanece um terrível segredo militar das Forças Armadas da Ucrânia. Assim, a Ucrânia tem um máximo de quatro dezenas de caças operacionais em suas fileiras, e isso após os 16 antigos regimentos aéreos soviéticos do 8º Exército de Defesa Aérea, ‘privatizado’ pela Ucrânia em 1992!", escreveu o analista.
Na emergência desta situação de pesadelo, o comandante da Força Aérea ucraniana Sergei Drozdov anunciou recentemente que o país tinha planos de comprar cerca de 100 caças Su-27 e MiG-29, dada a existência de infraestrutura de apoio para tais aviões.
Ainda não está claro onde Kiev vai barganhar essas compras, uma vez que a Rússia dificilmente as venderá, e devido ao inventário dos países do antigo bloco soviético ser tanto escasso (com um máximo de 9 a 12 modelos básicos de MiGs disponíveis, de acordo com Ischenko) quanto deteriorado. Além disso, com o custo dos MiGs estimado entre 5 e 8 milhões de dólares, e com os Su-27 custando várias vezes mais, não se sabe onde o país pretende obter as centenas de milhões de dólares necessários para realizar seus planos.