Nos passos de Bush: França adota medidas similares ao Ato Patriótico dos EUA

© REUTERS / Christian HartmannPolícia interroga um homem suspeito de ter participado de ataques em Paris
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Em resposta aos ataques de Paris, o governo francês adotou medidas autoritárias notavelmente similares às tomadas pelo então presidente norte-americano George W. Bush na sequência dos atentados de 9/11, observa o jornalista e analista geopolítico francês Gilbert Mercier.

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Os ataques simultâneos de 13 de novembro na capital francesa chocaram o mundo e levaram o governo francês a decretar medidas duras para garantir a segurança; no entanto, é improvável que as ações autoritárias consigam resolver os problemas socioeconômicos de longa data no país, os quais aparentemente se encontram na raiz do último ataque hediondo, ressaltou Mercier, em artigo para o News Junkie Post.

"A reação do governo francês foi tanto pânica quanto rápida, e imediatamente abraçou medidas autoritárias repressivas semelhantes às que foram criadas pelo governo Bush na sequência do 9/11/2001. Assim como o 9/11 nos Estados Unidos, parece que a maneira em que a sexta-feira sangrenta da França será explorada importa mais do que a própria tragédia", escreveu o autor.

"Não há melhor justificativa para reprimir os direitos civis, a liberdade e outros princípios que definem a essência da democracia do que a boa e velha guerra global permanente contra o terror", acrescentou o analista com um traço de amarga ironia.

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O jornalista ressaltou que a administração do presidente francês François Hollande emitiu imediatamente após os ataques uma série de ordens, incluindo a declaração do estado de emergência em território nacional e a introdução de controles mais apertados nas fronteiras do país.

Aos parisienses foram dadas instruções para permanecerem em suas casas, enquanto policiais fortemente armados, equipes da SWAT e militares ocupavam as ruas.

Mercier chamou a atenção para o fato de que um decreto notavelmente semelhante ao Ato Patriótico dos EUA foi rapidamente adotado para autorizar a busca de potenciais culpados em todos os edifícios e residências privadas.

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O decreto também permite "prisões preventivas sem causa provável, de qualquer indivíduo considerado suspeito ou perigoso pelas autoridades francesas", sublinhou o analista, acrescentando que o termo "perigoso" é "vago e elástico" e poderia se aplicar a dissidentes políticos.

Enquanto as fontes da grande mídia se focam incansavelmente na tragédia francesa, um recente ataque similar em Beirute, no Líbano, permanece amplamente negligenciado, enfatizou Mercier.

"A mensagem implícita e desprezível enviada pela imprensa foi que a perda de vidas francesas importava bem mais do que a perda de vidas de pessoas no Oriente Médio", escreveu ele.

Assim, pode-se imaginar que tipo de sentimento esta abordagem irá provocar em um jovem francês de origem árabe que geralmente fica "na parte mais baixa da cadeia alimentar socioeconômica francesa", observou o jornalista.

"Pessoas com tais perspectivas sociais sombrias são os principais e mais fáceis alvos para tornarem-se jihadistas do Estado Islâmico”, acrescentou.

Segundo Mercier, apenas um senso de perspectiva real para um futuro melhor poderia servir de remédio contra o mal-estar social escondido da França. Em contraste, de acordo com ele, a via da repressão escolhida pelo establishment político e financeiro do país não levará a nada.

"Por uma questão de sobrevivência da União Europeia, a França, e a Europa em geral, devem repensar radicalmente as suas políticas fracassadas. Os ataques de Paris devem ser considerados como os sintomas de uma falha sistêmica", frisou o autor do artigo.

Por outro lado, à luz das guerras perpétuas da OTAN que arrastaram o Oriente Médio e o Norte da África para o círculo vicioso de um banho de sangue, as vítimas de Paris "podem ser vistas como danos colaterais civis adicionais em um mundo onde o resultado líquido das absurdas políticas ocidentais é sempre a disseminação da miséria e da morte", concluiu Mercier.

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