Mauro Vieira destacou ainda que o comércio entre os dois países aumentou de US$ 1 bilhão em 2003 para US$ 11,42 bilhões em 2014. Deste total, US$ 4,78 bilhões foram das exportações brasileiras.
O ministro das Relações Exteriores também ressaltou que “é preciso diversificar essas transações e não centrá-las em setores de matérias-primas como as energéticas, que vivem um grande descenso pelo reajuste dos preços internacionais”.
O economista André Nassif, da Universidade Federal Fluminense e da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, o caminho sugerido pelo Ministro Mauro Vieira é correto. Nassif faz um histórico comparativo dos dois países:
O professor da UFF e da FGV afirma haver bastante espaço para aprofundar os laços comerciais entre os dois países:
“O Brasil é hoje um grande especialista e tem grande competitividade na produção de artigos agrícolas e commodities industrializadas ou derivados de commodities, enquanto a Índia tem uma grande competitividade no setor químico, em componentes químicos para a indústria farmacêutica. O Brasil produz quase nada neste segmento e também no setor de serviços comercializáveis, no setor de software ou derivados. Assim, podemos dizer que o Brasil pode exportar mais alimentos e commodities para a Índia e importar mais software e componentes químicos indianos.”
Já o professor de Relações Internacionais Wellington Amorim, especialista em países asiáticos, aponta em que setores a Índia está-se fortalecendo e poderá cooperar ainda mais com o Brasil.
“O relacionamento entre os dois países ainda é muito tímido, tendo em vista a dimensão tanto geográfica quanto em termos de população e ainda a própria relação dos dois no âmbito dos BRICS”, comenta Wellington Amorim. “Aliás, dentro dos BRICS apenas a relação com a China, em termos de volume comercial do Brasil, é importante. Em relação à Índia e mesmo à Rússia ou à África do Sul o intercâmbio comercial é bem aquém do potencial que nós sabemos que existe. E atualmente, mesmo com tentativas – em 2010 houve uma tentativa, dizendo-se que iam dobrar o intercâmbio –, isso não tem se realizado, por alguns motivos. Por exemplo: do que o Brasil exporta para a Índia, 90% são produtos básicos e semimanufaturados, basicamente produtos minerais, gorduras vegetais, açúcar, pérolas e pedras preciosas. E 97% das importações brasileiras da Índia são de produtos industrializados como óleo diesel, produtos químicos em geral e têxteis. Isto já mostra certo desbalanceamento, porque o Brasil nos últimos 10 anos tem se especializado em exportar produtos nos quais tem uma grande competitividade, que são produtos básicos, sejam alimentícios, minerais ou de outro tipo. Isso mostra um problema estrutural da capacidade de exportação brasileira. Nós, nos últimos anos, não procuramos aumentar a eficiência de certos produtos industrializados, e por isso temos perdido cada vez mais essa capacidade de acessar o mercado mundial. Ainda continuamos muito competitivos basicamente em termos de produtos que têm a ver com matérias-primas, porque nossa vantagem competitiva está em termos de preços, em termos de abundância de certos recursos naturais como sol, água, terra. Isso nos dá certa vantagem.”
Finalmente, Wellington Amorim analisa as possibilidades na área de TI: “O setor de tecnologia da informação tem sido apontado pelos analistas em geral como um nicho em que a cooperação e investimentos indianos na economia brasileira seriam potencialmente mais proveitosos. Por exemplo: serviços financeiros, questões de semicondutores, questão automotiva. E é bom lembrar que o Infosys, que é um grande conglomerado de informação indiano, já está presente no Brasil também. O Brasil deve tomar cuidado para não ficar como especializado apenas na exportação de matérias-primas, e tentar exportar material de maior valor agregado.”