Para Nicolás Maduro, a situação econômica do país levou o Governo à derrota. Já Enrique Capriles declarou que o resultado reflete o desejo por mudanças. Maduro, que admitiu a derrota na madrugada de domingo para segunda-feira, disse que “o resultado é circunstancial” e não terá maiores consequências para o Governo.
O jornalista Mário Russo, especializado em economia internacional, analisando os resultados das eleições legislativas venezuelanas, diz que uma série de fatores – e não só a questão política – levou ao resultado negativo para o chavismo.
“O fato é que a Venezuela vem enfrentando, nos últimos anos, um quadro que não é só dela, mas da América Latina como um todo”, diz Russo. “A economia dos países emergentes, nos últimos anos, vinha mantendo uma taxa de crescimento às vezes até acima da dos países do chamado Primeiro Mundo, mas caiu desde a crise norte-americana do subprime, em 2008. A Venezuela nos últimos anos se ressentiu muito, e nos anos mais recentes, principalmente nos dois últimos, ainda mais, porque ela é uma das maiores produtoras mundiais de petróleo, e esta commodity vem perdendo muito valor. Há cerca de dois anos, o petróleo era vendido a mais de US$ 100 o barril, e atualmente está na faixa dos US$ 50, uma perda gigantesca.”
Mário Russo destaca que estas eleições foram legislativas, não presidenciais, e Maduro tem mandato a ser cumprido até 2019.
“O Governo venezuelano e em especial o Gabinete de Maduro têm enfrentado esses problemas econômicos muito seriamente”, destaca o jornalista brasileiro. “A questão cambial, a questão da dificuldade ou as restrições de importação que têm se refletido, em certa parte, na questão do abastecimento interno. Em 2014, a Venezuela teve um saldo da balança comercial positivo em US$ 36 bilhões. Ela exportou muito mais do que importou, e algumas dessas importações têm um papel-chave na economia de matéria-prima, de alimentação, de produtos de higiene. E há, claro, uma natural tentativa de especulação por parte de algumas empresas na medida em que o Governo endurece a questão do congelamento e da fiscalização de preços.”
Já o especialista em políticas latino-americanas, com ênfase em Venezuela, Rafael Araújo, afirma não se poder dizer que não haja boicote ao Governo de Nicolás Maduro. “Evidentemente que há [boicote], e as experiências sobretudo de Governos de esquerda na História da América Latina mostram isso.”
O Professor Araújo, da Unilasalle e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, diz que “Maduro tem que aproveitar esta derrota para tirar aprendizado e ver que as coisas não estão caminhando bem para a população venezuelana”.
Sobre a intenção do Presidente Maduro de dialogar com a oposição, Rafael Araújo espera ver “como será esse diálogo. Talvez fique aí um ponto de interrogação, como eles vão lidar, porque é uma situação nova nos últimos 17 anos na Venezuela, com uma oposição fortalecida e que vai controlar o Congresso. Vamos ver se de fato eles vão conseguir sentar à mesa para negociar. Pelas falas tanto da liderança do Governo quanto da oposição, nas últimas horas, inclusive na fala da madrugada do Presidente Nicolás Maduro, fica um sinal de que há uma vontade de diálogo das duas partes”.