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Opinião: instabilidade no Brasil não é boa para ninguém

© AFP 2023 / EVARISTO SAJosé Mujica em 2009
José Mujica em 2009 - Sputnik Brasil
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O ex-presidente do Uruguai, José Mujica, declarou, após participar da abertura da Conferência Nacional da Juventude em Brasília, no dia 16 de dezembro, que o Brasil vive um jogo irresponsável que paralisa o país. Mujica defendeu que o papel dos brasileiros deve ser o de tirar o país do pântano.

Em entrevista exclusiva para Sputnik Brasil, o Professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, Creomar de Souza, avaliou que o ex-presidente do Uruguai foi direto ao ponto. Para o especialista, as elites políticas brasileiras, independentemente do partido, estando elas ao lado do governo ou na oposição, precisam assumir uma postura mais responsável. 

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“As agendas devem gradualmente deixar de ser particulares e precisam se tornar em agendas coletivas. Nesse sentido, a fala do Mujica, quando ele diz que o maior desafio do povo brasileiro é o de assumir uma postura, que seja de retirada do Brasil do pântano e de pressionar as elites dirigentes no sentido de que eles sejam mais responsáveis, vai de encontro às dificuldades que temos visto nessa atual conjuntura política. Ou seja, uma enorme dificuldade dos grupamentos políticos, sejam eles de oposição ou de situação, de construírem discursos que efetivamente vão de encontro às necessidades de nós, cidadãos brasileiros.”

O ex-presidente uruguaio também disse que as classes dirigentes do país estão brincando com fogo. Para Creomar esse seria o fogo da instabilidade. De acordo com o especialista, a necessidade de se combater a crise de confiança está muito vinculada à necessidade de construir um elemento que seja fundamental  para a estabilidade sistêmica.

“A classe política brasileira hoje, por uma série de defeitos e por uma série de distorções da realidade que tem construído, não consegue observar de forma muito clara os riscos de um discurso e de ações vinculadas a interesses particulares. Os escândalos de corrupção, a falta de confiança em mercados institucionais, a dificuldade de construir arcabouços legais que permitam a consolidação de um ambiente de estabilidade, de prosperidade, e de criação de negócios, tem gerado um  legado que pode se tornar, em curto e médio prazo, quase irreversível. Segundo Mujica, é necessário que a sociedade desperte e que a classe dirigente pare com esse projeto de fagocitose, no qual a classe política se alimenta de si mesma, levando o resto da sociedade junto.”

Creomar adverte que a grave crise política está minado a confiança do empresariado e outras entidades, prejudicando assim os investimentos. Isso, por sua vez, contribui para a queda da economia e resulta em falta de confiança nas instituições.

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Creomar Souza chamou atenção para o discurso do Mujica, no qual o ex-presidente Uruguaio advertiu: “É difícil que o sistema político, judiciário e os grandes meios de imprensa estejam conscientes do mal em que está metido o Brasil e das consequências que tem para todos os latino-americanos. Humildemente chamo a atenção das pessoas mais responsáveis. Nesse caso não há ganhadores, nesse caso são todos perdedores".

Mais uma vez, o especialista concordou com Mujica. Segundo Creomar Souza, tudo o que acontece no Brasil, mesmo este não pretendendo ser uma liderança regional na América Latina, gera muita repercussão nos países vizinhos. 

“Se o Brasil vende estabilidade, democracia, se o Brasil vende um mercado econômico com bons marcadores, essas tendências acabam reforçando  grupos com a mesma percepção na nossa vizinhança. Já um tremor institucional no Brasil abala as estruturas institucionais dos nossos vizinhos, porque vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, com mais interações políticas e econômicas. É importante entender que uma melhoria do ambiente político, econômico e institucional no Brasil pode significar também um elemento positivo para a melhoria de todos esses indicadores nos nossos vizinhos. Em um processo que seja lento, porém bastante consistente”, concluiu.

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