Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a delegada titular de Defraudações, Andrea Menezes, explicou que a descoberta da quadrilha teve início por um dos investigadores, que percebeu que as certidões de nascimento tinham informações muito parecidas.
"{O nosso ponto de partida aconteceu no Rio de Janeiro, dentro do Instituto de Investigação, após um policial papiloscopista verificar coincidências em alguns dados de registros de identidades recentes de pessoas mais velhas, e com os mesmos dados de residência, quase todos com ascendência síria. A partir desse alerta do policial, começamos a examinar os documentos de origem que geraram os RGs, e aí chegamos ao cartório."
A delegada conta que as fraudes aconteciam entre os anos de 2012 e 2014 nos livros de registros de nascimento e nas certidões de nascimento do cartório em que trabalhavam os criminosos procurados. Os documentos apontavam que os cidadãos legalizados pela quadrilha nasceram no Rio de Janeiro entre as décadas de 1960 e 1970.
De acordo com as investigações, Jorge Luiz da Silva Motta, que era funcionário do cartório onde eram feitas as falsificações, retirava as folhas dos livros e entregava para David dos Santos Guido, ex-funcionário do estabelecimento, demitido há 15 anos. Guido então fazia o registro dos sírios como brasileiros. Ele foi o responsável, na década de 1970, pela lavratura dos livros do cartório. Em seguida, Guido devolvia as folhas para Jorge Luiz, que as recolocava nos livros do cartório. "Quando periciamos os livros, nós verificamos que realmente eram todos falsos, muitos grosseiramente falsificados."
A grande questão que ainda é um mistério e fator de novas investigações por parte de outros órgãos de segurança do Brasil e até internacionais é o fato de que a maior parte dos favorecidos com documentos com cidadania falsa brasileira não tinha perfil de refugiado, mas, sim, são pessoas com alto poder aquisitivo. E muitos que conseguiram passaportes brasileiros ostentam nas redes sociais viagens internacionais com passagens por Paris, Nova York e Londres, usando os passaportes ilegais.
De fato, um dado confirmado pela Delegada Andrea Menezes é de que muitos compartilham em redes sociais textos defendendo atos terroristas ou mostrando simpatia pelo nazismo, como a esposa de Ali Kamel Issmael, que foi presa. A delegada explica que Ali Kamel era o elo de conexão da Síria com o Rio de Janeiro. Ele tinha contato com um advogado na Síria, responsável por enviar as pessoas para o Brasil a fim de obter essa documentação.
Em face dos últimos ataques terroristas no mundo, e de o Brasil estar num Ano Olímpico, Andrea Menezes diz que espera que os órgãos de Segurança Nacional estejam em alerta. De acordo com a delegada de Defraudações, o próximo passo da Polícia carioca é conseguir prender os três acusados que estão foragidos. Eles vão responder por formação de quadrilha e falsidade ideológica, podendo pegar até 8 anos de prisão aqui no Brasil.