As nova regras deveriam ser cobradas oficialmente a partir de 1 de janeiro de 2013, mas após muita polêmica e críticas dos brasileiros o Governo Federal adiou a entrada em vigor do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa para 1 de janeiro de 2016.
Com a medida, o Brasil passa a ser o terceiro dos 8 países que assinaram o tratado a tornar obrigatórias as mudanças, que já estão em vigor em Portugal e Cabo Verde. Já Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste ainda não aplicaram oficialmente as novas regras ortográficas.
Em entrevista exclusiva à Sputink Brasil, o professor, escritor, etimólogo e vice-presidente da Academia Brasileira de Filologia, Deonísio da Silva, vê benefícios mas também problemas com a entrada em vigor do Novo Acordo Ortográfico no país.
“Toda mudança traz dificuldades e períodos de adaptação, mas em princípio acho muito louvável que se unifique a língua portuguesa na sua forma escrita, sobretudo para a circulação internacional, como fez o árabe, que estava com 14 grafias diferentes e agora tem 1 para a circulação internacional. No entanto, isso não impede que o árabe seja escrito de outras formas, em diversas outras regiões, em outros países. O mesmo será aqui.”
O Governo brasileiro alega que o motivo da mudança tem como objetivo a padronização da língua entre os Estados-Membros da Comunidade de Países da Língua Portuguesa, para a facilitar o intercâmbio cultural e científico entre os países, além de também ampliar a divulgação do idioma e da literatura em língua portuguesa, já que os livros vão passar a ser publicados sem diferenças de vocabulários entre os países.
Nessa questão, o Professor Deonísio da Silva ressalta a importância do papel do Brasil e de Portugal como líderes do Acordo.
“É quase natural que Portugal seja ainda a referência solar para a língua portuguesa, e que o Brasil, sobretudo por sua população, que é tão numerosa, já com 200 milhões de falantes, e por ser um país que tem a língua portuguesa cobrindo todo o território nacional, seja junto com Portugal esta referência. É um duplo referencial para qualquer coisa que se faça em língua portuguesa.”
De acordo com o Ministério da Educação, o Acordo alterou 0,8% dos vocábulos da língua portuguesa no Brasil, e 1,3% em Portugal, mas Deonísio da Silva garante que os brasileiros não precisam se preocupar, pois as mudanças ocorridas são mínimas.
“Cerca de 95% das palavras escritas em língua portuguesa vão continuar a ser escritas como sempre o foram, o Acordo não vai mudar. A população pode ficar absolutamente tranquila. O Acordo mexeu na grafia de tão poucas palavras, e quanto à pronúncia, também não mexe na forma de pronunciar, e nem pode mexer.”
Entre as principais mudanças está a ampliação do alfabeto oficial brasileiro, que passa a ter 26 letras, com o acréscimo de K, W e Y. O grande problema para o etimólogo, no entanto, é mais quanto ao uso do hífen, além do fim do trema e de novas regras para acentos diferenciais.
O Professor Deonísio só lamenta que poucos estudiosos da língua portuguesa tenham sido consultados para compor o Acordo, que poderia ter sido mais simplificado.
“Se houvesse uma consulta maior, principalmente dos que trabalham com a língua portuguesa tanto na pesquisa quanto nas salas de aula, muitos dos problemas que a redação do Acordo trouxe não estariam ali. Eu acho que alguma coisa do Acordo de 1943, que foi reformado em 1945, não precisaria ter sido mudada, porque ele criou a ilusão de que o Acordo legislaria sobre a pronúncia, resultando em pessoas assustadas se estão falando certo ou não. Do jeito que ficou, e daí eu dou razão àqueles que dele discordam, que Acordo essencialmente não foi, porque Acordo não pode ser imposto.”
A grafia correta das palavras conforme as regras do Novo Acordo podem ser consultadas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), disponível no site da Academia Brasileira de Letras (ABL) – www.academia.org.br – e por meio de aplicativos para smartphones e tablets.