O cientista político Lincoln Araújo, da UERJ, acredita que esse movimento tem, sim, um caráter de ampliação de uma agenda social:
“A gente lembra que há dois anos aquelas manifestações, que assustaram a sociedade por conta do número de pessoas que foram as ruas, naquele momento eram uma agenda ampla, até diluída em algumas tribos”, comenta Araújo. “As pessoas reivindicavam em oposição à corrupção, mas também em relação ao aumento das passagens de ônibus. Havia uma multidão com vários rostos, várias caras, tinha desde os black blocs e o movimento estudantil até uma classe média que já sinalizava insatisfação, dando corpo a esse movimento um pouco mais conservador em relação ao Governo Dilma. Sim, isso pode retornar agora.”
Lincoln Araújo, no entanto, ressalta que é preciso tomar cuidado, pois nem todos os fenômenos sociais são iguais. Ao contrário, alguns têm suas diferenças históricas, suas circunstâncias e conjunturas.
“Essas manifestações que estão retomando com força, principalmente nas capitais, são profundamente positivas para o exercício da democracia participativa.”
“Há um movimento universitário e secundarista, desde novembro do ano passado, organizando-se no sentido de discutir com uma grande agenda de reivindicações além do aumento da tarifa dos transportes, incluindo a discussão da escola pública.”
Sobre a repressão das manifestações, como já aconteceu esta semana em São Paulo, o cientista político Lincoln Araújo observa:
“Esse processo democrático é um processo de aprendizagem tanto para aqueles que estão na manifestação quanto para os que representam o Estado. E o Estado não pode ser simplesmente um braço coercitivo.”