Segundo o último levantamento da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o Brasil ocupava em 2014 o 6.º lugar no ranking mundial de atração de capitais externos, o que representou 6,1% dos investimentos globais naquele ano. Em 2012, o país estava na 4.ª posição.
Leonardo Abrão, da Consultoria Abrão Filho, especializada em investimentos estrangeiros para o Brasil, observa que, embora ainda detenhamos o maior grau de Investimento Estrangeiro Direto (IED) na América Latina, o país ainda tem algumas barreiras que precisam ser vencidas, como a instabilidade dos marcos regulatórios.
“A gestão do ex-Ministro da Fazenda Joaquim Levy tinha uma linha de trabalho e objetivos discrepantes do Governo da Presidenta Dilma. Esse conflito de ideais ajudou a inibir o investimento direto e privilegiou o chamado ‘hot money’, ou seja, aporte daquele capital de curto prazo que, entre outras atribulações, causa a oscilação cambial.”
Sem regras mais estáveis, o consultor afirma que o investidor interessado em grandes projetos de infraestrutura – como portos, aeroportos, gasodutos e energia eólica, por exemplo – fica receoso e passa a ver o país com outros olhos.
Sem citar o nome da incorporadora americana, Abrão dá o exemplo de um projeto na Marginal Pinheiros, em São Paulo, que seria o maior complexo residencial na América Latina e que, após ter obtido todas as licenças e ter vendido várias unidades, foi interrompido por revisão das certidões concedidas.
Embora o Brasil tenha o maior Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina, outros países da região mostram um ambiente mais amigável para investimentos, de acordo com o consultor. Abrão cita o Chile, 40.º colocado no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, e o Uruguai (50.º), ambos bem à frente do Brasil, o 76.º colocado.
“Esses países oferecem um ambiente de negócio mais desregulado. Lá, por exemplo, um não residente pode abrir conta em banco em moeda estrangeira. No Brasil, um não-residente, se quiser abrir uma conta em real, vai enfrentar um processo bastante demorado”, diz Abrão, para quem o excesso de burocracia brasileira atrapalha a vinda de capital externo, até para questões básicas do dia a dia, como abertura e fechamento de empresas.
Diante da crise política que vem freando as decisões de investimento no país desde 2015, Abrão não vê chance de muitas mudanças para este ano, embora se mostre mais otimista com as perspectivas para 2017.
“Até lá, o Brasil deve ter trilhado melhor o caminho da maturidade econômica e ter um aumento na captação do investimento estrangeiro. Esse momento que passamos é, na verdade, um ciclo pelo qual outros países, hoje potências econômicas, já passaram.”