Hoje a Bolívia exporta 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia ao Brasil e 16 milhões de m³ à Argentina, que tem planos de aumentar a importação, bem como discutir a construção de duas linhas de transmissão, uma de 550 MW e outra de 300 MW, o que possibilitaria ao país andino exportar energia excedente aos argentinos, que têm um mercado 21 vezes maior do que o boliviano.
A Argentina também demonstra interesse que a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) participe das operações de prospecção de petróleo e gás em três regiões bolivianas, duas no sul e uma no leste do país. Do lado brasileiro, Petrobras e Eletrobras também estão presentes ao encontro analisando oportunidades de negócio.
O sócio fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, diz que, embora o encontro deva trazer benefícios para os três países, dada a sinergia entre eles, não será fácil retomar o processo de integração energética, uma vez que os três passam por processos políticos e econômicos distintos.
“A integração energética na América Latina sempre foi difícil, uma vez que a cada mudança de governo a nova administração queria rever os acordos firmados. O setor de energia, porém, é caracterizado por medidas e ações de longo prazo, não se pode ficar mudando regras a cada quatro anos sob pena de gerar insegurança muito grande nos investimentos.”
Pires lembra que os três países vivem momentos diferentes. Embora tenha no gás sua principal receita de exportação, a Bolívia também sente o impacto da queda do preço do petróleo, com o barril cotado às vezes abaixo de US$ 30. A Argentina tem agora um governo neoliberal, diferente dos 13 anos do kirchnerismo, enquanto o Brasil atravessa uma crise política e econômica há mais de um ano.
“Creio que a Bolívia tentará puxar para cima os preços na renovação dos contratos de gás, o que será difícil, porque o mercado internacional está em baixa. No Brasil, a Petrobras contabiliza uma dívida superior a R$ 500 bilhões, a maior entre todas as petroleiras no mundo. Já a Argentina, apesar do governo neoliberal, ainda tem dificuldades de atrair empresas que deixaram o país durante as gestões de Néstor e Cristina Kirchner, entre elas as da área de energia.”
Pires afirma ainda que a grande questão colocada hoje por vários especialistas diz respeito à capacidade da Bolívia em atender à demanda brasileira e argentina por gás nos próximos anos.
“O contrato com o Brasil termina em 2019, e já para 2021 muitos analistas acreditam que o país não terá como exportar os atuais volumes para o Brasil. No primeiro mandato do presidente Evo Morales, o governo estatizou a produção de petróleo e gás no país, o que provocou a fuga de muitos investidores. Desde então a relação entre produção e reservas caiu muito, o que faz suscitar esse receio. A situação se agrava, uma vez que a Argentina também pode pleitear aumento das importações”, explica.
O diretor do Cbie lembra que, mesmo sem um eventual pedido de maior importação de gás, o Brasil vai pagar mais caro pela compra. O motivo: os contratos de gás com a Bolívia são calculados em cima de uma cesta de óleo, variação do dólar e da inflação nos Estados Unidos. Com o câmbio hoje acima de R$ 4, é fácil entender o aumento.