Há 50 anos (bom, uma semana menos do que 50), o aparelho soviético Luna-9 aterrissava — se o processo pode ser chamado de aterrissagem — na superfície da Lua, o único satélite natural do nosso planeta. Foi também o primeiro aparelho a conseguir o pouso, depois de uma dezena de tentativas fracassadas.
O lançamento tivera lugar em 31 de janeiro de 1966, e no dia 3 de fevereiro, do horário terrestre de Moscou, o pouso foi confirmado. De 2,7 metros de comprimento e de 1.538 quilógramas de peso, a sonda espacial pisou no solo lunar e despregou uma estação automática que abriu-se como uma flor, no Oceano das Tormentas, na face visível da Lua.
Seguiram as primeiras fotos do satélite natural, tomadas desde a sua própria superfície. O professor Shevchenko destaca que o progresso atual faz parecer obsoletas aquelas fotos antigas, mas, naquela altura, "foi uma revelação para os cientistas — eles viram a estrutura da superfície lunar, detalhes mais pequenos, de um centímetro de comprimento".
O fato (muitas vezes questionado) da presença de uma tripulação norte-americana na superfície da Lua, três anos depois, em 1969, é o que a gente conhece melhor. Mas sem Luna-9, isso talvez não seria possível.
Objetivos atuais
Para o professor, que convocou uma entrevista coletiva, o objetivo do programa lunar atual da Rússia continua sendo "principalmente o pouso na superfície [lunar] e o trabalho no ambiente lunar".
O cientista compartilhou que o Programa Espacial Federal da Rússia vai se centrar na zona polar do Sul da Lua. É um local estratégico, porque lá, há jazidas de substâncias voláteis de baixas temperaturas. Em outras zonas do satélite natural, nomeadamente no equador, as temperaturas podem chegar a 150º C. Já as regiões polares têm as assim chamadas "armadilhas frias", que impedem a evaporação das substâncias voláteis.
Aliás, estas "armadilhas frias" podem ser um local perfeito para pouso de aparelhos espaciais. Mas agora isso não é possível, afirma o cientista, porque assim, as espaçonaves perderão o contato com a luz do Sol, principal fonte de energia.
Além de substâncias voláteis, a superfície da Lua guarda jazidas de metais de terras raras (como lítio), além de ouro, níquel e platina.
De profundis
As "armadilhas frias" podem trazer também certas vantagens científicas que permitirão compreender como foi feito o Universo e qual será o seu futuro. O professor Shevchenko nota que os locais por ele descritos têm provavelmente vestígios de substâncias deixadas por cometas e asteroides. Estes, por sua vez, vêm da Nuvem de Oort, extensa área que começa um pouco por trás de Netuno e vai até 50.000 unidades astronômicas afora. Desta maneira, afirma o cientista, a Humanidade poderia conhecer os mundos extraterrestes e até de outros sistemas solares ou galáxias sem mover-se de casa.
Base e colonização
Comentando a possibilidade de colonização da Lua ou da criação de uma base na sua superfície, Vladislav Schevchenko não descartou tal possibilidade, destacando que a presença da pessoa humana no local da descoberta é essencial: só uma pessoa "pode ver algo desconhecido e compreender se vale a pena prestar atenção nisso ou não", o que uma máquina não pode fazer.